
Chuvantiga
Seria uma crônica sobre a chuva? Mais uma, dentre tantas, não fosse o fato de que, ao entranhar a lembrança no pensamento, senti chover-me no peito a chuvantiga. A quedar-me assim, comecei:
Numa das ruas do Monte Castelo, seguia um barquinho de papel a correr-lhe pelas águas frias das coxias. Sem pressa, sem pressa, chuá, chuá, imaginava: todas as aventuras do mundo cabiam naquele barco a desmanchar-se lentamente enquanto vaguejante por sobre um céu baço que parecia, na meninice, ser tão grande.
Nas calçadas, buscando bicas, outros meninos e meninas saltavam felizes a tiritar, braços cruzados ao peito, inda livre, crentes na simplicidade de uma vida a viver ainda distante e muita.
À praça redonda, as peladas nas areias corriam entre pernas ligeiras. Os menores piscinavam no antigo chafariz coberto em mosaicos vermelhos que nem vi crescer, assim como aquelas crianças.
Em volta, pretos guarda-chuvas cumprimentavam-se com bons-dias domingosos; o peixeiro a cantar para as freguesas aos portões; encimando os muros baixos, verdes em limbos, as buganvílias, afirmando um vai-e-vem, dançavam; os cães a ladrar o estranhamento; as águas cortinavam, de cores, arco-íris na varanda; as empregadas corriam a desroupar o varal: “Chega, menina!”; o cheirinho de terra molhada entupia as narinas quando os respingos frios — vinham das venezianas do quarto — jaziam no travesseiro; o tactac repenicado no telhado acompanhava o grito do vizinho no alto do muro do quintal; o quintal avermelhecido em acerolas.
Era manhã e na sala inda escura o café esperava — passado no pano —, com leite, o pão francês quentinho e a manteiga de lata.
O pai, a mãe, os irmãos: nunca a mesa fora tão pequena.
Chovi com a chuva a tarde que ribombava.
“Mundo, mundo, vasto mundo”... Ah, se eu não me chamasse Raymundo, como vento gemeria, não em prosa, mas em poesia, todo o vivido retrato que, só no escuro deste quarto, a rasgar os céus azula-me o clarão, pela janela distraída do nublado coração.
Coluna quinzenal do Vida & Arte de O POVO: Raymundo Netto.
Que belo texto!!!
ResponderExcluirConheça a grande promoção no site! meu livro "Canções Reunidas" por apenas R$ 5,00 + Frete Grátis para todo o Brasil! Ajude a divulgar... estamos em uma luta pela divulgação e venda! Pois trata-se de uma produção independente, da realização de um sonho. Confira: http://george1302.blogspot.com/
ResponderExcluirGostaria que vc pudesse ler e comentar minha obra. Obriado!
QUERIDO ESCRITOR, A VALLADARES BOOKS COM APOIO CULTURAL DA ARTPOP- ACADEMIA DE ARTES DE CABO FRIO, AFBA – ASSOCIAÇÃO FLUMINENSE DE BELAS ARTES E A ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE VALPARAÍSO NO CHILE, TEM ORGULHO CONVIDÁ-LO PARA O LIVRO “Cordéis encantados, contos incríveis e poesias inesquecíveis” ,QUE SERÁ LANÇADO NA BIENAL DO RJ, DISTRIBUIDO GRATUITAMENTE NA FEIRA DE GUADALAJARA E NO SALÃO DO LIVRO DE MADRID.
ResponderExcluirSolicite o regulamento o mais rápido possível e não perca esta oportunidade de ter seu nome divulgado em feiras tão importantes.
Aproveite e visite o blog de nosso livro que será lançado na Argentina no dia 12 de maio e você é nosso convidado para este evento
livropalavrassemfronteiras.blogspot.com.br
atendimento@valladaresbooks.com.br