A Ace foi fundada em 21 de setembro de 2007. Mesmo nos primeiros passos desta infância já conquistou estas vitórias:


-Concurso Literário Eduardo Campos de Crônicas e Contos, com a participação de 120 autores e entrega do prêmio para os vinte autores com os melhores textos literários.

-Edição do livro Antologia de Contos e Crônicas Eduardo Campos, do referido concurso.

-Lançamento e distribuição do jornal FormAção Literária e do folheto didático Novo Acordo Ortográfico

-Instalação da sede da Ace no Sigrace, para funcionamento da secretária executiva, e auditório climatizado.

-Criação do site www.escritores ace.com.br, com a loja virtual do escritor.

-Participação na 9ª Bienal Internacional do Livro,

-Nomeação de dois associados para o Conselho Estadual de Cultura (CE) e participação efetiva nos Fóruns de Cultura Cearense, entre eles o Flec.

-Implantação da campanha Seus cupons velem livros, com o objetivo de divulgar a literatura cearense através dos escritores da Ace.

-Criação da Coordenação Literária, da Assessoria Literária para os escritores cearenses.

-Criação da Diretoria de Artes Cênicas e do Concurso Literário Rachel de Queiroz de Conto e Poesia.

-No último sábado do mês realizamos um evento cultural- palestra, lançamento de livro, sorteio de livros.


DIRETORIA DA ACE PARA 2012/2013

Presidente de Honra: Haroldo Felinto

Presidente Emérito: Francisco de Assis Almeida Filho

Presidente: Francisco de Assis Clementino Ferreira- Tizim

Vice-presidente: Linda Lemos

1º Vice-presidente: Francisco Bernivaldo Carneiro

1º Secretária: Sonia Nogueira

2º Secretário: Gilson Pontes

1º Tesoureiro: Antônio Paiva Rodrigues

2º Tesoureiro: Abmael Ferreira Martins

Diretor de Eventos: Silas Falcão

Diretores adjuntos de eventos: Eudismar Mendes, Romenik Queiroz, Lúcia Marques, Francisco Diniz, Márcia Lio Magalhães.

Diretor de Artes Cênicas: Aiace Mota

Diretor cultural: Cândido B. C. Neto

Diretora cultural adjunta: Fátima Lemos

Cerimonialista: Nicodemos Napoleão

Coordenador de Literatura: Lucarocas

Coordenador adjunto de Literatura: Ednardo Gadelha, Carlos Roberto Vazconcelos e Ana Neo.

Secretaria de Comunicação e Divulgaçã: José Onofre Lourenço Alves

Secretário Adjuntos: Geraldo Amâncio Pereira, Fernando Paixão, Pedro Cadeira de Araújo


Conselho Consultivo

Presidente: Francisco Muniz Taboza

Vice-presidente: Domingos Pascoal de Melo

1º vice presidente: Elson Damasceno.

Membros Efetivos: D. Edmilson Cruz, Juarez Leitão, Ubiratan Diniz Aguiar, José Moacir Gadelha de Lima, José Rodrigues, João Bosco Barbosa Martins, Pe. Raimundo Frota.

Conselho Fiscal

Presidente: Affonso Taboza

Membros Efetivos: Jeovar Mendes, Rejane Costa Barros, Girão Damasceno, Cícero Modesto.

26 de fevereiro de 2010

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIÁ-LA.


Os Países (Campanha Ultramundos)

Mais uma obra literária será lançada no cenário cearense. Trata-se do livro de poemas Os Países (Campanha Ultramundos) de Frederico Régis.
A nova obra, além de propor uma tradução do cotidiano e da vida pela linguagem poética, faz uma reflexão em torno da obra “Os Sertões (Campanha de Canudos)” de Euclides da Cunha nestes 100 anos da sua morte. O livro remete a este clássico da literatura brasileira em sua estrutura de capítulos (A Terra, O Homem e A Luta), transpondo a problemática do homem urbano e moderno para o cenário de luta da Guerra de Canudos.
Segundo o Poeta de Meia-Tigela, que posfaceia o livro, trata-se, não de ancorar (escorar-se) em Euclides da Cunha, porém de, uma vez tomado este como porto inicial, partir em busca de outras explorações, de outros países... Ainda pelo entendimento do Poeta, se no autor fluminense o caráter jornalístico e etnográfico tem como finalidade o retrato de uma parcela do Brasil e de um tipo de brasileiro — o do sertão e do sertanejo —, o intento de Frederico Régis é universalizar a abordagem, e já não temos um espaço geográfico circunscrito, já “A Terra” não é a terra e o sertão nordestino ou baiano, mas o mundo, marcadamente o urbano; “O Homem” não é o homem que vive naquele espaço restrito e limítrofe, porém o indivíduo humano, sobretudo se cercado pela cidade; e “A Luta” não é a campanha contra Canudos, mas a batalha desse elemento urbanoide contra aquilo que também significaria seu aniquilamento, a saber: seu sucumbimento à capatazia, ao “fim da poesia”.
Os Países também apresenta uma faceta linguística curiosa: o palíndromo. Diversos poemas contêm sentenças que se lidas de trás para frente resultam no mesmo significado. Para o palíndromo o que importa não é tanto a semântica, mas a sintaxe. Um exemplo é a frase: A trufa sem a levedura, à rude vela, mesa furta. O livro é permeado por palíndromos, que lhe enriquecem de imagens pitorescas.
A publicação é patrocinada e editada pelo Banco do Nordeste. As ilustrações são do Ilustrador de Meia-Tigela e do artista plástico Lúcio Cleto. Outro detalhe curioso é a capa, com forte apelo afetivo, relembrando os antigos cadernos Recreio, cuja foto de um pássaro é da autoria do ornitólogo e fotógrafo Ciro Albano .
Frederico Régis, 36 anos, é engenheiro de formação, bancário por sobrevivência e poeta por necessidade. Seus primeiros poemas remontam ao final da década de 1980. Em sua trajetória, motivou-se por diversas tentativas em colocar suas produções à luz, das quais resultaram publicações avulsas de caráter artesanal em pequena tiragem. Foram livros editados e diagramados pelo próprio autor, como: Aparições (2004), Ave e Dor Reta ou: O Aterro de Eva (2002), Além de Queda, Coice! (2001), Passageiro de Cúmulos (1998) e Desabamento (1996).
Por sete anos foi membro do grupo Ceia Literária, onde participou das coletâneas: Ceia Maior, O Lago das Vozes, Cais de Nós e Ceia Literária nº 5.
Tem atuado no cenário literário cearense, participando de recitais de poesia, encontros literários e de antologias diversas.
Em 2007 publicou Minutas do Caos, obra com boa repercussão junto aos leitores e que introduziu a estética do autor no cenário da poesia cearense.

Lançamento

Livraria Saraiva Mega Store – Iguatemi
03 de março de 2010 – 19h

23 de fevereiro de 2010

Escritores cearenses

A Secult divulgou o Edital Prêmio Literário para autor (a) cearense, objetivando premiar escritores, editores, quadrinhistas, pesquisadores, distribuídos em diversas categorias.

O objetivo da Associação Cearense dos Escritores é o de que os associados participem com suas obras inéditas ou publicadas, como determina o edital.
A Ace convidou o escritor e coordenador de políticas de livro e acervos da Secult, Raymundo Netto, para maiores informações. A reunião será no dia 04/03, quinta-feira, às 19h, na sede da Ace, rua Princesa Isabel, 817, centro. Em frente a Gerardo Bastos.

A Ace dará o apoio técnico aos associados que pretendem participar deste Prêmio Literário.

COMPAREÇA a essa importantíssima reunião.
Atenciosamente
Haroldo Felinto Carlos Roberto Vazconcelos Silas Falcão
Presidente Coodenador de literatura Diretor de eventos

18 de fevereiro de 2010

Edital Prêmio Literário para Autor (a) Cearense



O Governador do Estado do Ceará, Cid Gomes, e o Secretário da Cultura, Auto Filho, por considerarem a atividade editorial e toda sua cadeia produtiva como integrante do processo de desenvolvimento cultural e, assim, essencial para o desenvolvimento do Estado, no uso de suas atribuições, tornam público, para conhecimento dos interessados, o Edital Prêmio Literário para Autor (a) Cearense, a maior premiação para a literatura na história do Estado do Ceará, que objetiva garantir a democratização do acesso aos recursos do Tesouro do Estado para, conforme a Lei nº 13.549, de 23 de dezembro de 2004, estimular a produção e valorização dos autores e editores radicados no Estado do Ceará, promover a circulação do livro, preservar o patrimônio literário, incrementar a produção editorial estadual e regulamentar as inscrições para apresentação de propostas e seleção de projetos em Literatura e Cultura em 14 (quatorze) categorias, abaixo discriminadas, sendo atribuído ao presente Edital o valor da ordem de 2.000.000,00 (dois milhões de reais).
O Edital tem como objetivo selecionar e premiar cearenses, dentre escritores, editores, quadrinhistas, pesquisadores, ilustradores, cordelistas, artistas e autores (as) de projetos gráficos em Literatura e Cultura em reconhecimento à originalidade, qualidade intelectual e técnica de seus trabalhos, distribuídos nas seguintes categorias, intituladas em homenagem a autores e intelectuais destacados na cultura cearense:

Prêmio Caetano Ximenes Aragão, de Poesia inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Jáder de Carvalho, de Romance inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Moreira Campos, de Conto inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Milton Dias, de Crônica/Memórias inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Rachel de Queiroz, de Literatura Infantil e Juvenil inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Alberto Porfírio, de Literatura de Cordel inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Otacílio de Azevedo, de Reedição (R$ 2.857,14 para o proponente/autor (a) + publicação);

Prêmio Eduardo Campos, de Dramaturgia inédita (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);
Prêmio Braga Montenegro, de Ensaio e/ou Crítica literária inéditos (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Guilherme Studart de Ensaio sobre Tema Cultural inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a) + publicação);

Prêmio Luiz Sá, de Álbum em Quadrinhos inédito (R$ 4.285,71 para o autor (a)/ + publicação);

Prêmio Manoel Coelho Raposo, de Publicação de Selo Editorial (execução de projetos de publicação, conforme apresentação de Plano de Trabalho, de coleção constituída de, no mínimo, três livros versando sobre temática CULTURAL específica a escolher);

Prêmio Edigar de Alencar, de Publicação de Revista Literária/Cultural (execução de projetos de publicação, conforme apresentação de Plano de Trabalho, de, no mínimo, três números/edições de revistas, inéditas ou em curso, com tiragem mínima de 1.000 exemplares cada um)

Prêmio J. Ribeiro, de Publicação de Álbum/Livro de Arte (publicação ou republicação de álbum, livro de arte e outras publicações em forma de livro, não contempladas nas categorias acima relacionadas, conforme apresentação de Plano de Trabalho)

Com exceção das categorias de Reedição e Publicação de Álbum/Livro de Arte, poderão concorrer apenas OBRAS INÉDITAS, sendo considerada OBRA INÉDITA, para fins deste Edital, aquela cujos textos que a compõem não foram publicados em conjunto, integralmente, em meio impresso e/ou eletrônico.

No momento da inscrição, as obras/projetos deverão ser apresentados, OBRIGATORIAMENTE, sob PSEUDÔNIMO, com exceção das categorias Reedição, Álbum em Quadrinhos, Ensaio e/ou Crítica Literária, Ensaio sobre Tema Cultural, Revista Literária/Cultural e Álbum/Livro de Arte.
Pessoas jurídicas só poderão concorrer às categorias Publicação de Selo Editorial (exclusivo para pessoa jurídica), Publicação de Revista Literária/Cultural e Publicação de Álbum/Livro de Arte, devendo, no ato da inscrição, indicar a pessoa física responsável por sua execução.

A Subcomissão de Habilitação Técnica selecionará a obra a ser premiada consoante os seguintes critérios:
a) Qualidade literária e estética da obra/projeto
b) Originalidade e criatividade da obra/projeto
c) Pertinência cultural da obra/projeto
d) Qualidade de Projeto Gráfico (incluindo detalhes de produção como ilustração, acabamento, design/arte-final, impressão e encadernação)
e) Currículo do Proponente
f) Atendimento às exigências do Edital
g) Exequibilidade e adequação orçamentária aos valores praticados em mercado, viabilidade de execução, dos prazos para realização, alcance e abrangência do projeto (efeito multiplicador e participação coletiva), interesse público e garantia da visibilidade do Prêmio e do apoio institucional da SECULT.

Além, da premiação e apoio a projetos envolvendo a cadeia criativa e produtiva do livro, a Secretaria da Cultura, em acordo com a UNIGRÁFICA e com o SINDILIVROS, está articulando a possibilidade de elaboração de orçamentos mais reduzidos na produção dos livros destinados ao edital, qualificação técnica das gráficas proponentes (em consórcio com editoras), menores descontos para as livrarias no preço final do livro e a abertura de espaço nas livrarias para lançamentos das obras selecionadas.
As inscrições serão realizadas no período de 18 de fevereiro a 31 de março de 2010. NÃO PERCAM TEMPO NEM A DATA FINAL!

O Edital completo com todas as especificações de apresentação de cada categoria e as normas gerais poderão ser encontrados e impressos por meio do sitio eletrônico da SECULT:
http://www.secult.ce.gov.br/categoria1/premio-literario-para-autores-cearenses/premio-literario-para-autores-cearenses

Maiores informações: Coordenadoria de Políticas do Livro e de Acervos/COPLA - (85) 3101.6794 ou pelo e-mail copla@secult.ce.gov.br
Edital colhido no blog Almanacultura, do escritor Raymundo Netto.

12 de fevereiro de 2010

PROJETO BAZAR DAS LETRAS RECEBE O ESCRITOR NATALÍCIO BARROSO.

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIÁ-LA.
Em homenagem aos duzentos e cinquenta anos de Bárbara de Alencar,nascida a 11 de fevereiro de 1860; e aos trinta anos do Romanceiro de Bárbara, de Caetano Ximenes Aragão (1927-1995).

Grato pela leitura.

ROMANCEIRO DE BÁRBARA: CANTARES DE REBELDIA

O Poeta de Meia-Tigela
Há trinta anos Caetano Ximenes Aragão publicava o seu Romanceiro de Bárbara, livro cujo título nos remete imediata e não casualmente ao Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. O autor parece querer estabelecer desde o princípio um paralelo entre os episódios da Conjuração Mineira tão magistralmente recriada em versos pela poetisa carioca, e a Confederação do Equador que, no concernente à participação do Ceará, teve na família Alencar alguns dos significativos protagonistas.
Movidos pelo descontentamento frente às medidas do então recente governo imperial de Dom Pedro I, camadas representativas de Pernambuco, da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará unem-se em oposição ao poder monárquico centralizador. Em nosso estado, depois de aguerridos combates, Tristão Araripe chega a empossar-se como Presidente da Província em 1824, no entanto pouco demorando como tal. A pronta e violenta reação das tropas legalistas leva-o à morte em combate, bem como instaura furiosa perseguição aos revoltosos, culminando com o fuzilamento, em 1825, dos mártires Azevedo Bolão, Ibiapina, Carapinima, Padre Mororó e Pessoa Anta — no antigo Campo da Pólvora, atual Passeio Público.
Se Bárbara de Alencar não esteve envolvida diretamente na intentona de 1824, foi figura emblemática em 1817. Não apenas “acobertara” as conspirações de seus filhos Tristão e José Martiniano (este, pai do autor de Iracema), mas alimentara o ideal revolucionário com sua força de — mais do que matrona — matriarca esclarecida do Crato. É o que atesta a carta-testamento do padre, médico e naturalista Manuel de Arruda Câmara: “A D. Bárbara de Crato, devem olhá-la como heroína”. Heroica seria realmente sua postura quando do fracasso, em apenas uma semana, dessa primeira experiência republicana cearense: assim como seus filhos, é presa e conduzida ao antigo Quartel de 1ª. Linha da capital, e encarcerada sem direito a regalia de qualquer espécie. Pelo contrário, viveria dias de extrema penúria até sua transferência por mar para a Fortaleza das Cinco Pontas em Recife e, dali para Salvador, onde finalmente fora libertada, após uma devassa que com seus respectivos sofrimentos e represálias, durara cerca de três anos. O retorno para casa não resultou, porém, exatamente numa alegria: com os bens tomados pelo Império, e o nome enxovalhado (os adversários políticos naturalmente aproveitando-se da ocasião para a disseminação de toda sorte de maledicência), tornaram-se uma espécie de “exílio domiciliar” seus últimos anos. Não se tem notícias do pertencimento de Bárbara de Alencar às insubordinações que se seguiram à sua soltura. Morre em 1832, a vinte e oito de agosto, aos setenta e dois anos.
Eis os fatos que servem de motivo à lírica de Caetano Ximenes Aragão e ao Romanceiro: escrito num período marcado pela agonia do regime militar e início da Abertura, o livro faz do canto a Bárbara um canto à liberdade. O que é simbolizado exemplarmente pela contínua aparição no poema da Ave da Madrugada que “canta de noite e de dia/ é sua maldição cantar/ cantares de rebeldia/ e aquele que ouvir seu canto/ nunca mais se concilia/ será sempre um encantado/ da ave da madrugada”. E que é revelado ainda pelo poeta no Posfácio à obra: “Este poema é uma metáfora sobre a liberdade. Nasceu em tempos de incertezas. Havia medo, exílio, prisões, torturas, homens e mulheres banidos. Bárbara Pereira de Alencar, primeira presa política do Brasil, na ordem do tempo, sofreu prisão, violência, maus tratos, exílio e teve seus bens confiscados. Mas resistiu e por isso e outras razões, é uma heroína marginalizada na História de nosso País”.
“Uma heroína marginalizada na História de nosso País”, diz-nos o poeta. Não deixa de ser verdade, se pensamos no espaço concedido a diversos vultos tornados referências nacionais. Não deixa de ser verdade, se pensamos no espaço concedido a outros vultos tornados referências em nosso próprio estado. Não deixa de ser verdade se confrontamos o que representam as imagens de Bárbara de Alencar e seu filho Tristão Araripe, quando comparadas à imagem que atualmente exportamos como sendo a tradutora de nossa cearensidade: a de um Ceará não só Moleque, mas cuja molecagem vem identificando-se, gradualmente, com o baixo humorismo. Enaltecemos com orgulho a figura de um povo irreverente a ponto de vaiar o próprio sol. Mas diminuímos o valor dessa mesma irreverência quando a igualamos ao riso fácil resultante da piada mal-contada, reprodutora de preconceitos e estereótipos, incapazes de sugerir quaisquer maiores enfrentamentos do status quo. Forjamos cada vez mais a face de um povo que sabe rir (de si); porém, não será esse contentamento algo um tanto forçado, esgar ao invés de sorriso? Quando Caetano Ximenes elege Bárbara de Alencar motivo de sua poética, contribui para o resgate de outra fundamental expressão de nossa formação como povo: a expressão da luta, do confronto, do heroico e do trágico, igualmente cearenses.
Tomemos como simbólico o não nos ter chegado um registro, desenho, nenhum esboço sequer, dos rostos de Bárbara ou Tristão: e empreendamos o avivamento de suas feições, o avivamento de nossas feições, estimulando a presença de seu exemplo entre nós. Se Zenon Barreto soube representar a ausência de tal registro na estátua erigida em homenagem à “Guerreira do Brasil” (para lembrar a obra de Roberto Gaspar), soube também postá-la retilínea e altiva, conforme a vemos na Praça Bárbara de Alencar, na Avenida Heráclito Graça. Felizmente há sempre quem insista na representação de um Siriará combativo, e que sabe fazer da festividade, inclusive, também um momento de exaltação dessa “outra face” de que falamos: é o caso de inúmeros anônimos. É o caso também de Maria do Amparo, que mantém um pequeno museu na Casa do Sítio Caiçara em que Bárbara de Alencar nasceu, no município de Exu, sem apoio governamental ou particular algum. É o caso de Oswald Barroso à frente do anual Cortejo dos Confederados; e agora do Maracatu Nação Fortaleza e seu tema “Bárbara Luz da Liberdade”.
Vejam que não é absolutamente necessário que tomemos a vida negativamente, por a assumirmos heroica e tragicamente: é condição maior do trágico, não a dor, mas a insubmissão ante um destino demarcado. Sorriamos, pois: não com escárnio, mas com a felicidade dos que se sabem encantados pela “ave da madrugada/ que canta de noite e de dia/ (...) cantares de rebeldia”. “Bárbara era feitade pedaços de brisacertezase terra ensanguentada”(Caetano Ximenes Aragão)
“Bárbara era feita
de pedaços de brisa
certezas
e terra ensanguentada”
(Caetano Ximenes Aragão)

“O Pão” Nosso! (A Verdadeira História da Padaria Espiritual)



— crônica comemorativa de aniversário do Prof. Sânzio de Azevedo (11 de fevereiro) —

Lembrar é tão difícil quanto esquecer. Peço permissão agora, num galope à beira-mar, para abrir a caixa preta do Café Java e, assim, revelar a todos como se deu, realmente, o estabelecimento da sociedade de rapazes de Letras e Artes, vulgarmente conhecida por “Padaria Espiritual”.
Estávamos eu, Pedro Salgueiro, Astolfo Lima, Carlos Vazconcelos, Poeta de Meia-Tigela, Carlos Nóbrega e Nilto Maciel no Assis da Gentilândia, sede de reuniões de promessas literárias, — e digo “promessas”, pois geralmente nunca se cumpre o que se propõe nelas, deixando todas as deliberações para a próxima ou para a que vier depois dela, e se vier —, quando soubemos que o deputado Antônio Sales, poeta e romancista, estava de volta à cidade. Tão mal comentávamos o fato, o vimos sair de uma bodega do Benfica com uma bisnaga de pão francês debaixo do braço. Vinha de conversa com o professor Sânzio de Azevedo, já se indo à Jacarecanga, onde residia há algum tempo.
Fui buscá-los, logo os convidando a ficar, mesmo que por um pouquinho. Antônio Sales, que estava todo em branco, passou o lenço na cadeira antes de sentar. Cumprimentou a todos, puxou um charuto, tragou uma branquinha e, diante do pedido de novidades, revelou-nos o desejo de abrir um grêmio literário genuinamente cabeça-chata. Ficamos impressionados. Sabíamos haver pelo menos uma centena de academias na cidade e que, todos os dias, entre trovas e panegíricos medonhos, criavam-se outras. O cearense, dizem, antes de tudo é um acadêmico. Precisava-se mesmo de mais uma?
— Compreendam, camaradas — argumentou. —, eu não quero apenas mais uma como tantas essas burguesas, formais, retóricas e burocráticas. A nossa tem de ser coisa nova, original, e até mesmo um tanto escandalosa para que sacuda o nosso meio e que tenha repercussão lá fora.
— Mas como o senhor está pensando, dr. Antônio? — questionou o Carlos, já curioso, a pensar como convidá-lo para participar do Bazar das Letras do SESC.
Percebendo a inquietação, Sales forrou, com guardanapos, a cadeira ao lado, e deitou seu pão, ainda quente, enquanto retirava do bolso do paletó umas folhas de papel consteladas por pingos e respingos de tinta. Era o rascunho dos estatutos de tal agremiação. Leu-nos alguns de seus artigos inéditos:
— “Depois da instalação da sociedade, só será admitido quem exibir uma peça literária ou qualquer trabalho artístico que for julgado decente pela maioria.”
— Pronto, já começou mal. — comentou o Pedro, torcendo a boca, franzindo a testa e olhando sabe lá Deus pra onde. — Se tiver que ser julgado pela maioria não vai entrar é ninguém. Não entra. O pessoal daqui, do jeito que é, não deixa!
— É uma pena... Fortaleza mimosa, ex-tapuya, é hoje uma rapariga civilizada. Está perdendo o encanto. É incrível, amigos, que a cidade, ao passo que se alarga materialmente, vai-se estreitando moralmente, de forma a assumir as mesquinhas proporções mesológicas de um lugarejo matuto com todo seu fervilhamento de intrigas, de picardias e bisbilhotices. — lamentou, a prosseguir: — “O distintivo da entidade será uma haste de trigo cruzada de uma pena, distintivo que será gravado na respectiva bandeira.”
Trigo? Cerveja! Todos levantaram os copos. Apoiado!
— “É proibido o uso de palavras estranhas à língua vernácula.” — “Aquele que durante uma sessão não disser uma pilhéria de espírito, pelo menos, fica obrigado a pagar, no sábado, café para todos os colegas. Quem disser uma pilhéria superiormente fina pode ser dispensado da multa na semana seguinte.”
— Estou fora. Que é isso? Não vou pagar nada para ninguém. Eu não sei fazer graça. — reclamou o Nilto, derrubando o gelo da cerveja na unha encravada do seu pé.
— E nós não vamos falar em literatura, não, gente? — entrepôs-se o Astolfo, já impaciente.
— “O associado que for pegado em flagrante delito de plágio, falado ou escrito, pagará café e charutos para todos os colegas.”
— O plágio é um atestado de humildade... — lembrei.
— “Será julgada indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à fauna e à flora brasileiras, como: cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho etc.”
— Ei, o Rouxinol [do Rinaré] e o [Francisco] Carvalho vão ter que mudar de nomes? — comentou o Nóbrega, explodindo em risadas.
—“São considerados, desde já, inimigos naturais dos gremistas: os padres, os alfaiates e a polícia. Ninguém deve perder ocasião de patentear seu desagrado a essa gente.” Ah, essa parte é importante, gente: “Será punido com expulsão imediata e sem apelo o associado que recitar ao piano...”
— E o que citar trechos de latim no discurso também, não é? Ô coisa besta... — alguém lembrou um lançamento recente.
— “Vai detonar, implodir/ Antigas Instituições/ Vai deitar abaixo o Estado/ Costumes e tradições/ Vai trucidar, chacinar/Abonados, figurões.” — recitou o Poeta, apertando os dedos das mãos.
— Engraçado, né?... Mas a gente não vai falar em literatura, não? — lembrou novamente o Astolfo.
— “A sociedade representará ao Governo do Estado contra o atual horário da Biblioteca Pública e indicará um outro mais consoante às necessidades dos famintos de idéias.” Bem, ouvi dizer que esse problema já foi resolvido... “Publicar-se-á, no começo de cada ano, um almanaque ilustrado do Ceará contendo indicações úteis e inúteis, primores literários e anúncios de bacalhau.”
— Não vai dar certo. Ninguém ajuda nem lê. Já chega ao primeiro número com caquexia pecuniária. — profetizou o Nilto, limpando o bigode com o indicador.
— “As mulheres, como entes frágeis que são, merecerão todo o nosso apoio, excetuadas as fumistas, as freiras e as professoras ignorantes.”
— Uma mulher bonita de mau coração é como a mangaba que tem a polpa doce e o caroço amargo, não é assim, Sales? — tirou da memória invejável, o Sânzio.
— Pois é, Sânzio... Estou pensando em também publicar um periódico quinzenal, mas não sei ainda como vai se chamar... Vai depender, é claro, do nome que dermos à agremiação. — Nisso, Antônio Sales voltou-se ao seu pão e descobriu, surpreso, a cadeira em guardanapos vazios. Bradou: — O pão... que é do meu pão?
Estando todos nós com as bocas devidamente ocupadas, demos com os ombros, a abanar a cabeça...
— Pelos modos, querem me dizer que foi uma alma que levou o pão?
— Vai ver estão montando uma padaria espiritual. — respondeu, espirituoso, o Sânzio.
— É isso, professor... Padaria Espiritual! Padaria... O pão que alimenta o espírito do povo! O Pão! O Pão! Eureka!
Eufórico, Antônio Sales tomou rapidamente as folhas amassadas, colocou o chapéu à cabeça, despediu-se de todos, beijou forçosamente a testa do Sânzio, e arribou-se, como as aves, para fazer história.
— Esse negócio de beijar a gente é de lascar! — afirmou Sânzio com ares de “não gostei” e limpando a testa com o lenço. — Já pensou, rapaz, que coisa de Mandrake? Logo o Antônio Sales... Peraí...
— E o pior, professor, é que saiu e não pagou a conta. Que custa contribuir, né? Mais um! — desconsolava-se o Pedro enquanto o Nilto afirmava:
— Eu não vou pagar. Não convidei ninguém. Só bebi uma cerveja.
— Rapaz, eu só sei que vou mudar de bodega... ô, pãozinho bom... — afirmou, jocoso, o Nóbrega.
— E aí, minha gente, — reclamou o Astolfo puxando mais um cigarro — quando a gente vai começar a falar sobre literatura?
Ficou para a próxima... como sempre!

Antônio Sales (1868 – 1940), cearense, nascido em Parazinho (hoje, Paracuru), publicou “Versos Diversos”, “Minha Terra” e “Aves de Arribação”, dentre outros. Em 1892 criou o programa de instalação da “Padaria Espiritual” (alguns de seus trechos citados no texto), movimento que durou até 1898 e da qual fizeram parte diversos autores cearenses. Ajudou na fundação da Academia Brasileira de Letras, não aceitando, porém, o convite para fazer-lhe parte. Alguns dos trechos de sua fala forma colhidos de seus escritos.

Raymundo Netto é autor do romance “Um Conto no Passado: cadeiras na calçada. Escreveu esta crônica de aniversário para o Prof. Sânzio de Azevedo (11 de fevereiro). Contato:
raymundo.netto@uol.com.br / blogue: http://raymundo-netto.blogspot.com
CRÔNICA COLHIDA DO BLOGUE ALMANACULTURA, DO ESCRITOR RAYMUNDO NETTO.

10 de fevereiro de 2010

Associado(a)

Acesse http://www.hoteldelivros.com.br/ que divulga livros pela internet.
Nele você encontrará todas as informações sobre a adesão a este site de literatura.

Atenciosamente

Associação Cearense dos Escritores

8 de fevereiro de 2010

QUEM SABE...

Airton Soares

aquilo que a gente ignora
gera medo e nos agita,
mas "quem sabe faz a hora"
não espera nem hesita
Em um dia qualquer

Sonia Nogueira

Fui andando pela estrada afora
Com os olhos fitos na multidão
Só vi lamento em vez de comunhão
Braços mutilados abertos, desforra

O amor só uma nesga rija supérflua
Palavras moldadas sem emoção
Pobre dele tão frágil coração
Mendigando partilha vida nua

Dobrei a esquina procurei novo rumo
Mesmos dilemas, sorriso apagado
O amor ali esperando um achado

Tudo obscuro, inútil, mistificado
Apenas o corpo em gozo profundo
E a alma, coitada, perdida no mundo

4 de fevereiro de 2010

O jogo de damas

Pedro Salgueiro

Há cento e trinta anos jogava aquela partida, os parceiros se revezavam até sumirem de vez, os filhos e netos os sucediam e tornavam a envelhecer, enquanto ele permanecia ao pé do balcão, pelo lado de dentro: somente ele sentado — o tilintar dos dedos da mão esquerda continuava a fazer sulcos na madeira: os parceiros teimavam em desaparecer.

Na madrugada em que vieram me avisar que ele jogava à luz de candeeiro na mesma mercearia virada para o nascente, no mercado, eu comecei a chorar e rezei três terços e acendi duas velas em cada canto da sala; não dormi a madrugada inteira, sem coragem de ir vê-lo: a rua deserta, os cães ladrando insistentes, até os grilos pararam...

...eu pequenininho e fugia da oficina de meu pai e maquinalmente corria à mercearia do avô, onde já divisava, de longe, as latas de bombons enferrujadas, e nunca as vimos por dentro, é um mistério que estamos levando para o túmulo... o tac-tac das pedras no tabuleiro de vidro nos invadia os ouvidos e nos atraía pra lá. Disfarçando, fingíamos nem ligar, sentados a um canto. E apenas um mundo girava em seu eixo naquela tarde morta em que os únicos ruídos eram o trovejar das moscas no saco de açúcar e o arrastar das pedras no vidro.

O silêncio doía. Comentários, só os dele, irritado com alguma demora do adversário — cantava às vezes uma musiquinha insistente, quando ganhava folgado: “— caboclo, caboclo... ô caboclo perigoso!” ou insistia por horas na mesma palavra, até o limite da exaustão: “ — mas homem, mas homem, mas homem...”

Madrugávamos com o reco-teco das pedras no tabuleiro da cabeça, o começo incisivo, a vagareza do meio, rumando para o final nervoso de horas depois; no resto da tarde, imitava-se com a dama riscada na areia e nos enraivecíamos por as pedras de cacos de telha não chiarem no tabuleiro do chão...

...e o vizinho contava de novo que o viram jogar, cantarolando a mesma palavra a madrugada inteira, o bater de pedras invadindo o mercado e assustando quem passava desligado pelas calçadas àquela hora da noite.

Acendi mais uma vela, pensei em quebrar a dama empoeirada e não tive coragem... ela estava gravada, fazia tempo, na lembrança; abandonara para sempre o baú velho em que fora esquecida. Perseguia-me. Agora o bisavô do meu vizinho vinha insistir que o deixassem descansar, que parassem com aquele jogo a noite toda, sem sossego.
...decidi abrir o armário antigo, há décadas fechado. Jogaria o tabuleiro no cacimbão ou o quebraria a marteladas, contudo...

...abri de chofre a tampa e, entre casas de aranha e poeira, a jogada já não era a mesma da noite passada; movi a minha pedra, fechei o armário num supetão, rezei meu terço, acendi as velas...




SENTIDO EM 'S'

Mônica Silveira

Sinto sua sede
Seu suor selvagem
Salivando sobre seios
Sugando sentimentos

Sinto saliências
Sinuosas serras
Sons sensoriais
Solto seiva suave

Sinto sua sombra
Sondando sonhos
Serpente soerguida
Saltando sexo

Sinto sóis
Sensual simetria
Sou sereia seduzida
Sucumbida sinfonia

Sensação suprema
silêncio sereno
Sertão soberano
Sou sua, sempre sua


Poesia classificada para a antologia do XII Prêmio Ideal Clube de Literatura, 21/01/2010
Prêmio Gerardo Mello Mourão.
CURSO DE EXTENSÃO“CONHECENDO RACHEL DE QUEIROZ”
2010 – O ANO DE RACHEL DE QUEIROZ
LEI ESTADUAL N° 14.466, DE 15.09.09 (D.O. de 09.10.09)

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LOCAL: AUDITÓRIO DO CENTRO DE HUMANIDADES DA UECE
Av. Luciano Carneiro, 345, Bairro de Fátima Informações: (85) 3101.2026
PERÍODO: de 03 de fevereiro a 31 de março de 2010(todas as quartas-feiras, de 17h às 19h)
INSCRIÇÕES: De 25 de janeiro a 03 de fevereiro na Secretaria do Centro de Humanidades
Investimento: R$: 10,00 (Com direito a fotocópias e a certificado de 30h/a)
E-mail para contato: cleudene@gmail.com

PROGRAMAÇÃO:
03/02 (quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Cleudene Aragão (Letras UECE) – Os fabuladores artífices Rachel de Queiroz e Xosé Neira Vilas: vidasfeitas de terra, mar e palavra.

10/02 (quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Cecília Cunha – Rachelzinha: uma escritora em formação.

19/02 (sexta, de 17h a 19h30) – Profª. Vania Vasconcelos (FECLESC) –As três Marias de Rachel de Queiroz e As meninas de Lygia FagundesTelles

24/02 (quarta, de 17h a 20h) – Profª. Edna Carlos (UECE) - Cacau e Caminho de Pedras: literatura e ideologismo político.

03/03(quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Arminda Serpa (UECE) - Dôra, Doralina: um nome, a dor, o outro, a flor.

10/03(quarta, de 17h a 19h30) – Profª. Maria Valdenia da Silva(FECLESC) - (In)Formação na crônica de Rachel de Queiroz.

17/03(quarta, de 17h a 19h30) – Prof. Batista de Lima (UECE) - As dicotomias em O menino mágico, de Rachel de Queiroz.

24/03(quarta, de 17h a 19h30) – Prof. Rodrigo Marques (FECLESC) – A participação de Rachel de Queiroz no primeiro modernista no Ceará.

31/03(quarta, de 17h a 20h) – Profª. Lourdinha Leite Barbosa (LetrasUECE) - As personagens femininas de Rachel de Queiroz e Encerramento.
Pesquisa desta programação: http://raymundo-netto.blogspot.com/



Quase-elegia para o Poeta Mário Gomes


Carlos Roberto VaZconcelos

Mário, velho marinheiro,
tua nau perdida
na tempestade
e tantos versos extraviados;
tu resistindo
entre procelas
feito um camões vencendo a nado.
Mas a cidade, sem piedade,
quer te engolir:
Cuidado, Mário!
Serás poeta, santo, bandido
ou simplesmente um afogado.

Pobre fidalgo
da velha praça (teu escritório).
Quando te vejo ultrajado,
entre a bigorna e o malho,
tenho certeza que tua fúria
divide o mundo em duas raças:
os que te sabem poeta
os que te julgam espantalho

3 de fevereiro de 2010

"Antes que a Chuva Chegue", crônica de Pedro Salgueiro para O POVO (29.01)

I - Caça ao turista.

Férias, sol, suor e cerveja: alegria na cidade!
Está aberta a nova temporada de caça ao turista.
O taxista engrena três meninas novas no pedaço, combinam porcentagens, discutem locais... o porteiro do hotel da Beira-Mar, do motel da Parangaba e do quitinete no Centro concordam com os índices. Os pais das meninas também.Os restaurantes confeccionam novos cardápios, sempre com alguns números a mais.
Os meninos doiradinhos de sol descem o morro, canelas secas e ligeiras atrás do “gringo velho”, que desapareceu no Novo México e, dizem, reapareceu em Iracema.
Os sujeitos das vans caçam vítimas, “atenção!, senhor, três praias por 80 réis.”Bugues assassinos esperam novas vítimas, enquanto isso cavalos, burros e jumentos cagam na onda branquinha.
O paredão de som ameaça com o mais novo sucesso da Axé Music e do Forró Eletrônico.
Três novos garçons foram contratados na barraca, os olhos vermelhos miram câmaras e celulares.
No velho teatro, pseudo-humoristas desenferrujam velhas piadas, bufônicas, histriônicas e carregadas de preconceitos. Sacaneiam o carequinha, o gordito, o branquelo...
Arrancam o riso a fórceps. Fecham o velho turismo nosso dos “três pés”: Praia, Prostituição Infantil e Piada de Mau Gosto.
“Está aberta, senhores, a nova temporada de caça aos turistas. Mas, por favor, não os assustem para que voltem! Vivos!”
II - Para-didáticos

Depois da famigerada corrida às compras de Natal e Ano Novo, os esfomeados comerciantes já afiam novamente suas garras por trás dos mil livros escolares...Além, os primos pobres ensaiam sadismos entre as árvores da Praça dos Leões:— Olha aqui, freguês!, me mostra sua lista! Aqui a gramática novinha, já com o novo acordo ortográfico... Não tá riscada!... Custa 80 paus na livraria.
O “freguês” se esquiva do vendedor, do trombadinha e vai atrás do Papai Noel, que cortou a barba e é especialista em para-didáticos...
Quando se sente segura telefona para o marido, “que é melhor comprar no colégio dividido em seis vezes”... Não chegam a um acordo e ela sai apressada, arrastando o menino e três sacolas cheias na direção do Passeio Público.
III - Pré-carnavais

Ano bom que se preze só se inicia depois do carnaval, o meu apenas após a Semana Santa.
E olhem lá!!! E uma das desculpas preferidas do cearense é a de que “o carnaval não, mas o pré-carnaval aqui é ótimo”. Lenda urbana, igual ao “Perna Cabeluda” (que é de Recife), “a Loira do Banheiro” e a recente “Railux Preta”. (Aliás, somos pródigos em lendas urbanas, as mais variadas e nocivas possíveis: a de que o turismo beneficia a todos, a de que temos por aqui futebol, a de que a cidade é bela... e outras mil mais.)
Pois bem, se o carnaval em três dias (?) já incomoda meio mundo, imaginem os diversos pré-carnavais em cada canto desta nossa desvalida loirinha desvirginada pelo sol. Do Periquito da Madame ao Vai dar o Carlito, da Cachorra Magra ao Rosca de Chifre do Zé Walter, do Num Ispaia senão Ienche, do Luxo da Aldeia ao finado Quem é de Bem fica. E tomem marchinhas mal tocadas pelos ouvidos afora, e tomem fedor de mijo pelas calçadas semana adentro, e tomem cerveja quente pelo fígado alheio, e tomem “saidinhas” de bloco pelas ruas adjacentes...
E tomem, nós, insossos fortalezenses, barulhos sem fins pelo mês de janeiro em diante... E tomem, todos nós, no...