A Ace foi fundada em 21 de setembro de 2007. Mesmo nos primeiros passos desta infância já conquistou estas vitórias:


-Concurso Literário Eduardo Campos de Crônicas e Contos, com a participação de 120 autores e entrega do prêmio para os vinte autores com os melhores textos literários.

-Edição do livro Antologia de Contos e Crônicas Eduardo Campos, do referido concurso.

-Lançamento e distribuição do jornal FormAção Literária e do folheto didático Novo Acordo Ortográfico

-Instalação da sede da Ace no Sigrace, para funcionamento da secretária executiva, e auditório climatizado.

-Criação do site www.escritores ace.com.br, com a loja virtual do escritor.

-Participação na 9ª Bienal Internacional do Livro,

-Nomeação de dois associados para o Conselho Estadual de Cultura (CE) e participação efetiva nos Fóruns de Cultura Cearense, entre eles o Flec.

-Implantação da campanha Seus cupons velem livros, com o objetivo de divulgar a literatura cearense através dos escritores da Ace.

-Criação da Coordenação Literária, da Assessoria Literária para os escritores cearenses.

-Criação da Diretoria de Artes Cênicas e do Concurso Literário Rachel de Queiroz de Conto e Poesia.

-No último sábado do mês realizamos um evento cultural- palestra, lançamento de livro, sorteio de livros.


DIRETORIA DA ACE PARA 2012/2013

Presidente de Honra: Haroldo Felinto

Presidente Emérito: Francisco de Assis Almeida Filho

Presidente: Francisco de Assis Clementino Ferreira- Tizim

Vice-presidente: Linda Lemos

1º Vice-presidente: Francisco Bernivaldo Carneiro

1º Secretária: Sonia Nogueira

2º Secretário: Gilson Pontes

1º Tesoureiro: Antônio Paiva Rodrigues

2º Tesoureiro: Abmael Ferreira Martins

Diretor de Eventos: Silas Falcão

Diretores adjuntos de eventos: Eudismar Mendes, Romenik Queiroz, Lúcia Marques, Francisco Diniz, Márcia Lio Magalhães.

Diretor de Artes Cênicas: Aiace Mota

Diretor cultural: Cândido B. C. Neto

Diretora cultural adjunta: Fátima Lemos

Cerimonialista: Nicodemos Napoleão

Coordenador de Literatura: Lucarocas

Coordenador adjunto de Literatura: Ednardo Gadelha, Carlos Roberto Vazconcelos e Ana Neo.

Secretaria de Comunicação e Divulgaçã: José Onofre Lourenço Alves

Secretário Adjuntos: Geraldo Amâncio Pereira, Fernando Paixão, Pedro Cadeira de Araújo


Conselho Consultivo

Presidente: Francisco Muniz Taboza

Vice-presidente: Domingos Pascoal de Melo

1º vice presidente: Elson Damasceno.

Membros Efetivos: D. Edmilson Cruz, Juarez Leitão, Ubiratan Diniz Aguiar, José Moacir Gadelha de Lima, José Rodrigues, João Bosco Barbosa Martins, Pe. Raimundo Frota.

Conselho Fiscal

Presidente: Affonso Taboza

Membros Efetivos: Jeovar Mendes, Rejane Costa Barros, Girão Damasceno, Cícero Modesto.

25 de março de 2010

A CIDADANIA E A EDUCAÇÃO


A cidadania não é possível sem a educação por que a primeira é uma decorrência da segunda e, por isso, nenhuma pode caminhar sozinha.

A educação sempre foi uma necessidade fundamental e também uma exigência crescente do mercado de trabalho, que a cada dia torna-se mais seletivo, até mesmo nas atividades mais simples, tendo em vista a necessidade de utilização de ferramentas cada vez mais complexas. Essa exigência vai se tornando maior na proporção que os cargos vão alcançando maior destaque.

O processo de globalização econômica tem concorrido decisivamente na formação que o profissional deve seguir. Atualmente estudar se tornou uma necessidade, uma vez que, somente uma ampla formação e com profundos conhecimentos técnicos serão capazes de garantir a nossa entrada e permanência no mercado de trabalho.

A instrução escolar jamais poderá ser esquecida em um segundo plano, como é hoje colocada pelos nossos representantes, em todas as áreas dos poderes tanto legislativo quanto do executivo. Consequentemente, isso provoca a impossibilidade total da cidadania e da democracia. Numa visão mais ampla, a instrução escolar cresse paralela a variedade de interesses e intervenções, a velocidade e à complexidade das mudanças culturais, em todas as suas expressões, nas sociedades contemporâneas.

Quando falamos em cidadania nós a concebemos como se fosse uma dimensão superior à política. Não devemos desmerecer a política, como se fosse pertencente a um campo menos expressivo e inferior à cidadania. Através da política é possível construir a cidadania e a democracia – isso na definição política do termo, pois ainda está longe de ser o nosso caso: o bem comum representa a igualdade social e dignidade coletiva. Nesse sentido, a cidadania e a democracia se revigoram e se reinventam. Como afirma Leonardo Boff: "o ser humano é um ser de participação, um ator social, um sujeito histórico e coletivo de construção de relações sociais o mais igualitárias, justas, livres e fraternas possíveis dentro de determinadas condições histórico-sociais".
A consciência social e o desenvolvimento político são dois aspectos que cada vez mais vem se desvendando como instrumentos de emancipação e autonomia do cidadão que deseja entender a sociedade e atuar como autor, nas mais diversas áreas de sua atuação.

Ao julgarmos a democracia unicamente como ideal de igualdade, acabamos por aniquilar a liberdade. Existe um grande perigo em conceber todos os indivíduos como iguais, pois excluiremos o direito democrático da diferença, a possibilidade de pensar de maneira diferente e de ser diferente. A igualdade é importante quando há o respeito à diversidade de cada um.

Ao nos referirmos sobre democracia na escola, devemos, ao mesmo tempo, reconhecer as diferenças sociais e buscar aqueles aspectos em que todos os membros da comunidade escolar têm os mesmos direitos. Dentro da Instituição Escola, o respeito à hierarquia, o trato com o status dos colegas, configuram a igualdade de direitos, que por sua vez consideram a cidadania.
Necessitamos ter a consciência do que realmente significa o exercício da cidadania. Cidadania é a coragem no compartilhar dos esforços em instituir uma sociedade livre, justa e solidária.

Tarcísio Mendes de Araújo

22 de março de 2010

NO SILÊNCIO E NA MADRUGADA


No silêncio da madrugada,
Faço chegada,
A tua morada.

No silêncio da madrugada,
Num passo lento,
Procuro o teu leito.

No silêncio da madrugada,
Duas bocas se calam,
Me entrego em segredo.



Carla de Castro

18 de março de 2010


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PRIMAVERA/ PARA LIA TERCEIRO

Poeta-de-Meia-Tigela


Tiveste corpo, carne e osso deveras?
Formas de mulher, lânguidas, melíferas?
O sumo das maçãs, peras ou nêsperas?
Ousaste desejar dores puérperas?

Ou nem vieste a — logo posta às feras?
O que te veste agora, o halo de Etéreas
Estrelas? Sentes frio ou te incineras?
Quando soube de ti, tu já não eras.

Ou, chegaste ao ser — para além das Eras —
Habitante de Altíssimas Esferas,
Imune ao tempo, sem após ou vésperas.
Passas entre, através das coisas meras.

E nós outros aqui, em meio às heras,
E sós, em nós de acérrimas Quimeras,
E vãos, nos vãos das mais fundas crateras.
Sombra ou sonho, o que foste? ...Primaveras.

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

17 de março de 2010

A cigarra e o poeta

A CIGARRA E O POETA

Zelito Magalhães

Eu te bendigo, ó cigarra
Que leva a vida a cantar
Para tudo alegrar
Espantar os dissabores.
Entendo bem tuas queixas
O teu cântico sem par
Que nunca pode parar
Por força das tuas dores.

Enquanto eu vibro a viola
Fazendo o meu improviso
Tão triste, tão indeciso
Sem noutra coisa pensar
Tu cantas lá pelas serras
Tão ingênua, tão calma...
Eu canto com a voz da alma
Sorrindo pra não chorar.

Ó minha cigarra amiga
Companheira de desdita
Quando te vejo aflita
Amargando a solidão
Também sozinho no mundo
Eu choro a minha tristeza
Que sai com tanta pureza
De dentro do coração.

Nosso canto é parecido:
Tu cantas para alegrar
Eu canto pra não chorar
As mágoas dentro do peito.
Juntemo-nos, pois, companheira
Eu – poeta, tu – cigarra
Vamos fazer uma farra
Cantando num tom perfeito.

Em suave orquestração
Cantemos numa só voz
Transformando o eco atroz
O choro de dor profundo...
Cantemos a sinfonia
O canto do despertar
Pra toda gente alegrar
Tornando feliz o mundo!

Do livro Canções de um Menestrel (2ª. edição) a sair
S E R M U L H E R

Traz na alma o encanto feminino
No corpo a beleza de uma flor
No andar faceiro como
se fosse o vem e vai
das ondas do mar

Quando criança traz no olhar
a surpresa ao ver um mundo
Tão maior
que o seu mundo pequenino
resumido
numa casinha de bonecas

Quando mulher sede seu corpo
para uma nova vida gerar
se doando cheia de ternura
e amor
com o coração ansioso
esperando nove meses
a receber em seus braços
seu filho para amamentar

É mulher, esposa, mãe
anjo da guarda
doce meiga e delicada
porem guerreira,destemida
tem a força de um leão
ao defender sua prole
Se preciso for

Ela é simplesmente uma Mulher
nesse universos imenso
que ainda guarda segredos

Trava uma luta acirrada
na defesa de seus direitos
pois alem de ser uma cidadã. . .
é maravilhoso ser simplesmente MULHER!

Minha homenagem ao dia internacional da MULHER

Léa Abud

13 de março de 2010

" A BALA QUE MATOU MARCELA", desabafo de Lira Neto
Eu não conhecia a empresária Marcela Montenegro. Mas sei muito bem quem é o autor do disparo que a atingiu: a nossa indiferença cotidiana. Isso mesmo. É exatamente isso o que você leu: quem atirou em Marcela foi nossa estupidez e nossa omissão. Todos nós somos os seus algozes.As coisas sempre estiveram aí, debaixo de nosso focinho, e sempre teimamos em não querer olhar para elas. Porém, quando a tragédia se instala de forma tão violenta e em um cenário tão próximo a nós, ficamos estarrecidos, quedamos desesperados, exercitamos uma tardia mistura de medo, desconsolo e indignação. Tudo porque se esgarçou o ilusório cordão de isolamento que parecia separar nosso paraíso refrigerado do abrasador inferno das ruas. Agora sabemos. Ninguém está imune. A peste está solta.

Até então, era como se o barril de pólvora no qual vivemos sentados não fosse de nossa conta. Mas quando a bala perversa atinge a cabeça de um de nós - ou alguém que bem poderia ter sido um de nós -, só assim despertamos de nosso sono letárgico de classe média deslumbrada e clamamos por providências contra a barbárie. É claro que as autoridades do setor de segurança precisam ser chamadas, com todo o rigor, à razão. Cabe a elas reprimir o faroeste caboclo, explicar como uma zona da cidade reconhecidamente dominada por assaltantes sempre permaneceu assim, entregue ao império da pedrada, do tijolaço e da bala. Mas também é mais do que oportuno, e se torna dolorosamente necessário, refletir sobre a parcela de responsabilidade que nos cabe, pacatos cidadãos, a respeito de um episódio tão hediondo.

Aprendemos a rir, de modo confortável e sem culpas, do programa policialesco de televisão que faz piada da violência que grassa em nossas periferias. Fechamos os olhos para as ocupações irregulares de terrenos que, por falta de um ordenamento urbano mais consistente, pululam na cidade e se tornam semeadouros de conflitos. Deixamos placidamente que nossas meninas se prostituam, de modo sórdido, por alguns míseros trocados ou pelo sonho de desposar um príncipe louro, nos inferninhos da Praia de Iracema. Permitimos, sem dar um único pio, que se instale o vale-tudo, que valha a lei do mais tosco, que a falta de urbanidade seja a regra geral em nossa anestesiada coexistência. Diante de tudo aquilo que fere e incomoda a coletividade, tapamos o nariz, silenciamos a voz, levantamos o vidro fumê do carro, fazemos ouvidos moucos.
Como os macaquinhos que se acham muito sábios mas que apenas permanecem sentados sobre os próprios rabos, não ouvimos, não vemos, não falamos. Na verdade, compactuamos com o descalabro. Somos os cúmplices da iniquidade.

Uma querida amiga jornalista, por e-mail, ao comentar o crime contra Marcela Montenegro, lamenta que, enquanto isso, ao passo em que a brutal violência coleciona mais uma vítima na cidade, o governador e a prefeita continuem a brigar pela supostamente bizantina questão de um estaleiro. Pois daqui respondo, cara amiga, caros leitores: é bom que prefeita e governador discutam mesmo. E é imprescindível que entremos e coloquemos cada vez mais o dedo e ainda mais lenha nessa briga. Não apenas para produzir aquele tipo de fogo que gera fagulha e calor, mas também para produzir a chama que traz a luz.

O debate em torno do tal estaleiro, querida amiga, caros leitores, nada tem de bizantino.É exatamente por nos esquivarmos de discutir coisas assim, como a proposição de um gigantesco estaleiro na orla urbana da cidade, que chegamos ao ponto onde estamos. Aqui, fique-se claro, não vai nenhuma puxada de sardinha para a brasa de qualquer um dos lados partidários ora em contenda. Não falo - e nunca falarei - de política no varejo. Desde a juventude, sou alérgico a partidos políticos. Falo, isso sim, de uma noção maior de política, falo a respeito de qual projeto de cidade afinal de contas desejamos e estamos erigindo para nós mesmos e para nossos filhos.Tão esdrúxula quanto a ideia de um empreendimento industrial gigantesco fincado no litoral urbano é a instalação de um jardim japonês encravado na Beira-Mar. O segundo pode até aparentar ser menos polêmico ou menos nocivo do ponto de vista social, econômico, ecológico, paisagístico, urbanístico ou, sei lá, estético do que o primeiro. Mas creio que, ambos, estaleiro e jardim japonês, em maior ou menor escala, são igualmente reveladores de nossos tantos equívocos. Não há, pelo menos ao que eu saiba, uma colônia japonesa constituída em Fortaleza. Qual então o significado daquele monstrengo pretensamente zen plantado em um dos últimos espaços de convivência da cidade? Aquilo não passa de mais uma das tais belas ideias fora do lugar, outra aberração urbana, outro alienígena que pousou na cidade e por ali foi ficando, debaixo da complacência bovina de todos nós.

O que, afinal de contas, isso tem a ver com o tiro que acertou Marcela? - indagará por certo o leitor que teima em buscar compreender os efeitos sem descer ao desvão das causas. Tem tudo a ver, insisto. Não estamos apenas entregando a cidade aos malfeitores, aos turistas sexuais, aos arautos da bagunça, aos políticos talvez bem intencionados que, por serem incompetentes, provavelmente lotarão a ante-sala do inferno.

Nós, também, somos perigosamente belicosos. Cada vez que estacionamos o carro sobre a calçada, tornamo-nos mais selvagens. Cada vez que mudamos de faixa no trânsito sem ligar a sinaleira, contribuímos com a desordem geral. Cada vez que paramos em fila dupla na frente da escola à hora de pegar o pimpolho na saída da aula, reproduzimos a lógica de uma terra sem delicadeza e sem lei.

Gentileza gera gentileza, pregava o profeta carioca das ruas. Ao contrário dele, somos habituais fomentadores da grosseria, da falta de educação, da omissão, do oportunismo calhorda. Se não puxamos pessoalmente o gatilho na direção da cabeça de uma inocente, por vezes nos pegamos fazendo coisa tão nefasta quanto. Estamos matando, pouco a pouco, por sufocamento, uma cidade inteira. Acordemos enquanto é tempo. Fortaleza pede socorro. Barbárie gera barbárie.

PS: Sei que corro o risco de algum parlamentar indecente brandir este texto no plenário da Câmara ou da Assembléia como panfleto político contra fulana ou beltrano. De antemão, repudio-lhe o gesto, Excelência. O senhor sabe bem o tamanho da carapuça que lhe cabe.
(Texto publicado em 12 de março de 2010, no jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza)

11 de março de 2010

Na Paz Mundial

Quisera promover mesmo nas letras
A tão sonhada paz que doa amor
Embora os corações em desamor
Indiferentes fiquem atrás da cetra

Lutando mesmo assim em vão tormenta
O mundo desafia a guerra além
Aqui cada bandeira lado aquém
Juntam outras vozes que fomenta

A paz no amor e na união dos povos
Amigos dão-se as mãos pela palavra
Erguendo uma canção pra rumos novos

As forças da emoção rastreiam mentes
Numa corrente imensa em fé e graça
Pudesse eu, da paz faria as sementes


Sonia Nogueira

4 de março de 2010

E

Para Mônica Serra Silveira


Pergunto ao Diacordo qual a palavra, da nossa língua, de sua predileção.

− Da conjunção E, Silas. Ela aproxima. Une. Acrescenta. Cria relações construtivas. Vínculos. Estabelece grupos. Inicia diálogos. Inaugura convivências.

Eu e você.

Essa conjunção é fraterna. Democrática.

Espiritualidade!

Evoluímos quando o E supera egoísmos, individualismos, a ideologia do mercado sobre a vida.

Somos menos do que podemos ser, sem o E.


Do livro Por quem somos?

Silas Falcão
D. Romalina

A vida é cheia de pacotes.
Mario Quintana

Os pensamentos não lhe dão sossego.

Tiram-lhe o sono.

Sugam-lhe a vida.

Sempre no passado, recorda-se de si: Festas. Jóias. Carros luxuosos. Legião de amigas a exaltando.

Contudo, o tempo – carrasco, firme − pôs-lhe no canto social cheio de pobreza.

Hoje ela tem apenas a companhia dos seus demônios invisíveis.


Do livro Por quem somos?

Silas Falcão
A correspondência


Não identifiquei remetente, origem da postagem.

Estranhei!

No envelope, letras arabescas e ralas.

A curiosidade apressou-me a abri-lo.

Na primeira folha nenhuma letra. Incrédulo, olhei o branco sincero do papel sobre minhas mãos que voaram velozmente pousando na última folha: ausência.

Inquietei-me.

O que alguém pretende comunicar numa correspondência sem escrita?

Deserto confuso.

Examinei abundantemente a última folha. No rodapé direito, em letras tímidas, quase imperceptíveis, estava escrito: solidão.

Do livro Por quem somos?

Silas Falcão

3 de março de 2010

TÉRCIA MONTENEGRO nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1976. Graduada em Letras, mestrado em Literatura Brasileira e doutorado em Lingüística pela Universidade Federal do Ceará.

O VENDEDOR DE JUDAS

A cidade era outra. Pequena, habitantes escassos. Uma igrejinha só. Duas praças, a lagoa sinuosa e o casarão dos políticos. Não havia cadeia, que o povo era manso. Briga de desonra se resolvia entre famílias; com o boato fervilhando, tudo se ajeitava de pronto. Os crimes de faca nunca aconteciam antes da Serra Branca, fronteira a mais de légua.
Ele chegou; apeou-se. Janelas abriram-se, curiosas, a ver quem surgia de onde e para quê neste fim de mundo. As informações saíam lentas, cheias de reticências, com gosto de pergunta:- Olhe... hotel aqui... O senhor só acha a pensão da Malvina. Naquela esquina, sabe? Pode ir que tem vaga. Quase ninguém aparece visitando este canto... Sabe?
Ele saiu no rumo indicado. Admiravam-lhe o cavalo de pêlo marrom. Algumas mocinhas vieram à calçada, desfazendo tranças.
De manhã, D. Malvina a custo conseguiu atravessar a rua. A cidade inteira parecia rodeá-la, com vozes atabalhoadas de anseio. Quase gritou:
-Mas já disse que não sei de nada! O homem veio, trancou-se no quarto, jantou por lá mesmo. E acorda agorinha, se vocês não me param com esta zoeira!
Um mulato arriscou, por detrás de umas senhoras:- E a mala? Um malão daquele tamanho! Ele disse o que tem dentro?
D. Malvina ia aborrecer-se; hesitou. A multidão eriçava com a pergunta. Mais um pouco e os ânimos subiriam à rebeldia.- Disse que era coisa para vender. – E completou rapidamente: - Não faço idéia do que seja.
Alguns se dispersaram, satisfeitos com a dúvida. A maioria ainda quis acompanhar por uns metros a dona da pensão. O prefeito apareceu, voz grossa sob o farto bigode. Ordem geral: todos para seus afazeres e ele próprio para casa, indagar da esposa se ela adivinhava os detalhes do que já se fazia mistério.
O desconhecido continuou a provocar assunto, suscitar apostas. A hora do almoço no bar do Rufino era o momento mais esperado, tanto pelos homens, que lá iam tentar o fio da prosa com o forasteiro, como pelas jovens casadoiras, que arrastavam olhares e vestidos do lado de fora.
Ao fim de três dias, a notícia, dada pelo dito-cujo, ele mesmo, frente a várias testemunhas:
-Sou vendedor. Fabrico judas. É trabalho de ano inteiro. Antes de chegar a Páscoa, saio vendendo o estoque por esse interior. Cada boneco, uma cidade.
Decepção. Aquilo já era conhecido: a festa da queima do apóstolo traidor. Há décadas o velho Aníbal costurava uns espantalhos forrados de palha e os doava, simplesmente, para serem amarrados nas árvores. Agora teriam de comprar judas? Melhor não haver festa; Judas nunca valeu tostão furado.O desconhecido parecia esperar aquela reação. Pediu que o acompanhassem ao hotel (assim ele chamava a pensão) para mostrar o produto de seus dons artísticos; obra-prima sempre destruída, no final das contas.
Maravilharam-se. O boneco era perfeito, de feições nítidas, esculpidas na madeira clara. Olhos e sobrancelhas eram pintados; o cabelo vinha em peruca, sem falha ou emenda. O judas se vestia com um paletozinho cáqui muito jeitoso, flor de plástico na lapela. Até sapatos tinha.
Daquele jeito, haveria de custar fortuna. O forasteiro explicou que fazia os bonecos em série – e mostrou outros dois, igualmente trabalhados –, o que barateava a compra de matéria-prima. Além disso, utilizava madeira oca e freqüentemente apodrecida, com revestimento de pano. Tudo na aparência belo, mas, em verdade, feito para acabar numa só noite.
E mais um tanto de palavreado. O quarto sufocante; uma dúzia de homens. Quando o preço foi mencionado, não causou grande espanto. Pediriam fundos à prefeitura; afinal, era uma festa popular, para todo mundo. Devia ser bem comemorada.O Sábado de Aleluia amanheceu em alvoroço. Grupos de mulheres congestionavam a praça, examinando o judas dependurado no cajueiro. Os homens repetiam as explicações do vendedor, gesticulando muito. Apareceu o velho Aníbal, cara fechada, acompanhando o prefeito. Deu umas apalpadelas no ventre do boneco. Comentou, na estranheza:
-Não está certo.
O prefeito assentiu, nariz torcido sobre o bigode.
-Também acho. Desperdício comprar um troço desses, tão bem-feito, justo para a fogueira.
Aníbal nem escutou. Cheirava a roupa do judas, batia-lhe com os nós dos dedos no corpo de madeira clara. Sacudiu o boneco; o galho ameaçou se quebrar. Alguns protestaram:
-Ó velho, cuidado! Desse jeito estraga o serviço.
Não adiantou tentar explicações. Em pouco tempo, todos levantaram a voz ao antigo vendedor, que este ano guardara os judas, rejeitados, de palha. Praticamente o expulsaram da praça:
-Vá, seu despeitado!
Aníbal desertou, olhos baixos. Ruminava para si, para seus pés cobertos de poeira:
-Não está certo... Não.
E, após o Ite missa est, quando todos corriam de tochas acesas, o velho foi o único a ver, perto da Serra Branca, a minúscula figura do homem montado num cavalo marrom. Ia embora, à procura de outra cidade, que esta – ouvia-se pelo estrondo – explodia em nuvens de pólvora, guardadas no ventre de um boneco traidor.

2 de março de 2010

CURIOSIDADES LITERÁRIAS

01 - Numa entrevista, em 1948, perguntaram a Graciliano, como se devia escrever:
“Deve-se escrever, da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem o seu ofício.
Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”

02 - Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica. Por insistência da sogra, casou na igreja com Maria Augusta, católica fervorosa, mas exigiu que a cerimônia ficasse restrita aos pais do casal.

03 - A meninice desse grande romancista brasileiro foi pontuada por muita violência. Em seu livro autobiográfico, Infância (1945), ele narra numerosos episódios de brutalidade protagonizada pelo seu pai. No fragmento abaixo, que extraí do livro, Graciliano narra uma delas, de quando ele tinha quatro anos: “A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alaridos inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz... (...) Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir os soluços, gemer baixinho e embalar-me em gemidos... (...) Sozinho, vi-o (o pai) de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra. Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça”.

04 - Certa vez, Gregório de Mattos, enviara uma bandeja de doces a uma família amiga.
Tão agradecida ficou a família que não lhe devolveu a bandeja, que era de prata. O poeta não gostou do esquecimento e, na primeira oportunidade, encontrando-se com uma pessoa da família, perguntou-lhe com esta quadrinha:

“As almas do outro mundo
Dizem que vão e não vêm;
E a minha bandejinha
Será alma também?”

Gregório de Mattos e Guerra (poeta) era conhecido como Boca do Inferno ou Boca de Brasa e foi um dos maiores representantes do Barroco brasileiro

05 - Olavo Bilac dizia que os escritores da Academia Brasileira de Letras eram chamados de imortais "porque não tinham onde cair mortos". Agora todos têm direito ao enterro no mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

06 - José de Alencar (1829-1877) era filho do padre José Martiniano de Alencar. O escritor foi fruto de uma união ilegal do padre com a prima Ana Josefina de Alencar.

07 - Joaquim Maria Machado de Assis era mulato, epilético, pobre, gago. Era bisneto de escravos e filho de Joaquim, um pintor de paredes mulato, e de Maria Leopoldina, uma lavadeira. Ele nasceu no Morro do Livramento, RJ, ficou órfão de mãe aos 3 anos e de pai, aos 11. Não freqüentou escola e tornou-se vendedor de balas na rua para a tia doceira. Foi caixeiro, guarda-livros e aprendiz de tipógrafo. Numa festa, uma senhora o abordou e comentou: "Tinham-me dito que o senhor é gago e vejo que não é tanto". Replicou ele: "Pois, me tinham dito que a senhora era estúpida e vejo também que não é tanto".

08 - O Visconde de São Lourenço, cego de um olho, mandou construir um grande prédio na Rua Matacavalos, hoje Riachuelo, no Rio. Um gaiato escreveu-lhe à porta:

"Comer nozes e não ter dentes
É coisa que mete dó.
De que servem tantas janelas
Para quem tem um olho só."

09 - O escritor Pedro Nova parafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém os tirasse do lugar.

10 - Érico Veríssimo era quase tão taciturno quanto o filho Luís Fernando, também escritor. Numa viagem de trem a Cruz Alta, Érico fez uma pergunta que o filho respondeu quatro horas depois, quando chegavam à estação final.

11 - A poesia "Se Eu Morresse Amanhã", que Álvares de Azevedo escreveu um mês antes de morrer, foi lida durante o enterro pelo escritor Joaquim Manuel de Macedo. Álvares morreu aos 21 anos, na tarde do dia 25 de abril de 1852, um domingo de Páscoa. Ele é o patrono da cadeira número [2] da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.





A FAZENDA SÃO LUIZ


Estive revendo a Fazenda que tive como berço. Foi lá onde dei os primeiros passos e sofri os primários tombos na greda batida. Na casa, bebi o mugido leite nas invernosas e ensolaradas manhãs. Após meio século de minha existência, não vi, neste singelo arvoredo, uma única casa erguida; após todo este tempo, apenas a mesma meia dúzia de casas da época em que eu lá engatinhava. A casa onde nasci estava de portas cerradas. Não tive o direito ao menos de pisar no solo do verdejante quintal: era nele onde eu corria atrás dos capotes, dos cordeiros e das aves que ali vinham catar as pedrinhas que lhes serviam de elixir da própria existência. Nem no alpendre onde eu ouvia a viola chorar tive a jovialidade de tocar meus pés. A Fazenda era de meu querido e falecido genitor. Um cão guardava este espaço com muito zelo e carinho. Não tentei me aproximar, para não vê-lo ladrar: apenas bati uma foto da casa, para guardar como lembrança de minha doce infância. Se o proprietário do domicílio lá estivesse, a minha presença possivelmente seria acatada com louvor e respeito.
Esta Fazenda São Luiz fica aproximadamente a dois quilômetros e meio de minha modesta Ibicuitinga. O progresso nunca chegou às suas portas. Este calmo vergel está de parabéns, porque, no dia em que ele chegar e puser seus pés naquele local, aí, sim, começarão a aparecer as mazelas e também as vielas da urbanização, daí, então, surgirão os problemas; o probo morador irá se sentir excluído deste tão fértil chão: espero que ele não aceite ser um pacóvio deste fétido sistema.
Se, em 55 anos, não houve uma só construção no meu querido São Luiz, posso dizer que me senti muito feliz, até porque eu estava acompanhado de minha querida esposa e estávamos nos dirigindo ao pequeno e limpo açude. O saudável banho nos aguardava e, para reverenciar este verdejante local, o açude havia sido cercado, o que faz com que ele fique longe das mãos asquerosas do progresso. Sei que, daqui à alguns anos, Ibicuitinga crescerá em direção a este cheiroso pomar. Espero que as indústrias jamais possam jogar dentro dele seus cacarecos, pois este açude é uma virtude. Não sei até quando ele irá resistir aos futuros arranha-céus que o tempo moderno trará como prova de sua louca expansão urbana. Nestas águas, eu e outros meninos dávamos cangapés, para ver quem possuía maior agilidade nestas aventuras. Jamais o filho do burguês que habita o sofisticado apartamento, em sua pomposa piscina, terá a habilidade de nadar com rapidez 50 ou 100 metros. Talvez nunca tenha tido o prazer de jogar a pedra na água, para vê-la deslizar suavemente sobre o espelho de sua superfície

Antonio Girão Damasceno - ESTIVE EM IBICUITINGA EM JULHO DE 2009.
DEDICO ESTE TEXTO A TODOS OS AMIGOS E AMIGAS DA ACE.