A FAZENDA SÃO LUIZ
Estive revendo a Fazenda que tive como berço. Foi lá onde dei os primeiros passos e sofri os primários tombos na greda batida. Na casa, bebi o mugido leite nas invernosas e ensolaradas manhãs. Após meio século de minha existência, não vi, neste singelo arvoredo, uma única casa erguida; após todo este tempo, apenas a mesma meia dúzia de casas da época em que eu lá engatinhava. A casa onde nasci estava de portas cerradas. Não tive o direito ao menos de pisar no solo do verdejante quintal: era nele onde eu corria atrás dos capotes, dos cordeiros e das aves que ali vinham catar as pedrinhas que lhes serviam de elixir da própria existência. Nem no alpendre onde eu ouvia a viola chorar tive a jovialidade de tocar meus pés. A Fazenda era de meu querido e falecido genitor. Um cão guardava este espaço com muito zelo e carinho. Não tentei me aproximar, para não vê-lo ladrar: apenas bati uma foto da casa, para guardar como lembrança de minha doce infância. Se o proprietário do domicílio lá estivesse, a minha presença possivelmente seria acatada com louvor e respeito.
Esta Fazenda São Luiz fica aproximadamente a dois quilômetros e meio de minha modesta Ibicuitinga. O progresso nunca chegou às suas portas. Este calmo vergel está de parabéns, porque, no dia em que ele chegar e puser seus pés naquele local, aí, sim, começarão a aparecer as mazelas e também as vielas da urbanização, daí, então, surgirão os problemas; o probo morador irá se sentir excluído deste tão fértil chão: espero que ele não aceite ser um pacóvio deste fétido sistema.
Se, em 55 anos, não houve uma só construção no meu querido São Luiz, posso dizer que me senti muito feliz, até porque eu estava acompanhado de minha querida esposa e estávamos nos dirigindo ao pequeno e limpo açude. O saudável banho nos aguardava e, para reverenciar este verdejante local, o açude havia sido cercado, o que faz com que ele fique longe das mãos asquerosas do progresso. Sei que, daqui à alguns anos, Ibicuitinga crescerá em direção a este cheiroso pomar. Espero que as indústrias jamais possam jogar dentro dele seus cacarecos, pois este açude é uma virtude. Não sei até quando ele irá resistir aos futuros arranha-céus que o tempo moderno trará como prova de sua louca expansão urbana. Nestas águas, eu e outros meninos dávamos cangapés, para ver quem possuía maior agilidade nestas aventuras. Jamais o filho do burguês que habita o sofisticado apartamento, em sua pomposa piscina, terá a habilidade de nadar com rapidez 50 ou 100 metros. Talvez nunca tenha tido o prazer de jogar a pedra na água, para vê-la deslizar suavemente sobre o espelho de sua superfície
Antonio Girão Damasceno - ESTIVE EM IBICUITINGA EM JULHO DE 2009.
Antonio Girão Damasceno - ESTIVE EM IBICUITINGA EM JULHO DE 2009.
DEDICO ESTE TEXTO A TODOS OS AMIGOS E AMIGAS DA ACE.
Girão,lendo esta crônica você relembrou o meu grande quintal que era a fazenda Barro Vermelho, de propriedade do meu avô. E todos estão lá: meu pai, minha mãe, meus irmãos e irmãs,tios e primos. Vários destes já morreram. Mas todos estão lá.
ResponderExcluirSilas Falcão