A Ace foi fundada em 21 de setembro de 2007. Mesmo nos primeiros passos desta infância já conquistou estas vitórias:


-Concurso Literário Eduardo Campos de Crônicas e Contos, com a participação de 120 autores e entrega do prêmio para os vinte autores com os melhores textos literários.

-Edição do livro Antologia de Contos e Crônicas Eduardo Campos, do referido concurso.

-Lançamento e distribuição do jornal FormAção Literária e do folheto didático Novo Acordo Ortográfico

-Instalação da sede da Ace no Sigrace, para funcionamento da secretária executiva, e auditório climatizado.

-Criação do site www.escritores ace.com.br, com a loja virtual do escritor.

-Participação na 9ª Bienal Internacional do Livro,

-Nomeação de dois associados para o Conselho Estadual de Cultura (CE) e participação efetiva nos Fóruns de Cultura Cearense, entre eles o Flec.

-Implantação da campanha Seus cupons velem livros, com o objetivo de divulgar a literatura cearense através dos escritores da Ace.

-Criação da Coordenação Literária, da Assessoria Literária para os escritores cearenses.

-Criação da Diretoria de Artes Cênicas e do Concurso Literário Rachel de Queiroz de Conto e Poesia.

-No último sábado do mês realizamos um evento cultural- palestra, lançamento de livro, sorteio de livros.


DIRETORIA DA ACE PARA 2012/2013

Presidente de Honra: Haroldo Felinto

Presidente Emérito: Francisco de Assis Almeida Filho

Presidente: Francisco de Assis Clementino Ferreira- Tizim

Vice-presidente: Linda Lemos

1º Vice-presidente: Francisco Bernivaldo Carneiro

1º Secretária: Sonia Nogueira

2º Secretário: Gilson Pontes

1º Tesoureiro: Antônio Paiva Rodrigues

2º Tesoureiro: Abmael Ferreira Martins

Diretor de Eventos: Silas Falcão

Diretores adjuntos de eventos: Eudismar Mendes, Romenik Queiroz, Lúcia Marques, Francisco Diniz, Márcia Lio Magalhães.

Diretor de Artes Cênicas: Aiace Mota

Diretor cultural: Cândido B. C. Neto

Diretora cultural adjunta: Fátima Lemos

Cerimonialista: Nicodemos Napoleão

Coordenador de Literatura: Lucarocas

Coordenador adjunto de Literatura: Ednardo Gadelha, Carlos Roberto Vazconcelos e Ana Neo.

Secretaria de Comunicação e Divulgaçã: José Onofre Lourenço Alves

Secretário Adjuntos: Geraldo Amâncio Pereira, Fernando Paixão, Pedro Cadeira de Araújo


Conselho Consultivo

Presidente: Francisco Muniz Taboza

Vice-presidente: Domingos Pascoal de Melo

1º vice presidente: Elson Damasceno.

Membros Efetivos: D. Edmilson Cruz, Juarez Leitão, Ubiratan Diniz Aguiar, José Moacir Gadelha de Lima, José Rodrigues, João Bosco Barbosa Martins, Pe. Raimundo Frota.

Conselho Fiscal

Presidente: Affonso Taboza

Membros Efetivos: Jeovar Mendes, Rejane Costa Barros, Girão Damasceno, Cícero Modesto.

25 de agosto de 2010

Leio Sinos de Papel quase em clima de compulsão. Tudo o que você faz na seara poética é de alto nível. É como se você tivesse o espírito da poesia entranhado na pele. FRANCISCO CARVALHO (Sobre Jorge Tufic)

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23 de agosto de 2010

A crônica para relembrar o Benfica de Moreira Campos

Manhã dessas da vida decidi flanar pelas ruas com e sem saída da velha Gentilândia, fundida em tempos mais atuais ao bucólico Benfica. Bairro boêmio e intelectual, reduto último de um tempo passado, início do século XX, casas de um só andar, quase nenhum duplex, nada ainda de prédios arranhando céus tão limpos de barulhos ou nuvens de fumaça.

Sim! Apesar da proximidade geográfica que o Benfica guarda em relação ao sujo e abandonado centro de Fortaleza, nada lhe afeta a maciez do tempo onde relógios preguiçosos parecem marcar seus dias. Domingos, então, nada mais tranqüilizante que apreciar sem pressa de chegar a lugar nenhum, fachadas de casas aquietantes, árvores farfalhantes, bem-te-vis, rolinhas cascavel, pardais e, com sorte, o singrante gavião que costuma habitar as copas das altas mangueiras do Bosque de Letras. Será ele o antigo morador daquelas paragens dos meus tempos de acadêmico? – Vinte anos passados – Ou se tratará de um seu descendente, gerações pósteras de velhas asas caçadoras?

Certa noite boêmia de lá, lançaram-me aos ouvidos de poeta uma daquelas indeléveis frases que costumam nos acompanhar por toda a vida: “Morar no Benfica não é simplesmente morar, é habitar um privilegiado estado de espírito!” E como! É preciso se ir até lá ao amanhecer de um final de semana, deixando-se ir preguiçoso por entre as barracas da feira livre, sentindo, um a um, os extratos, cheiros emanados das frutas, verduras e afins expostos nas bancadas de madeira que, de tão velhas, certamente guardam histórias de décadas e décadas de sol, chuva, sorrisos e saudades. Chuva que no Benfica cai e se torna cheiro de amor, vida e pena de morrer.

Ventos quentes de verão não têm vez por aquelas bandas. Sombras de altas castanholeiras e imponentes benjamins amenizam a sede física e espiritual dos amigos – gerações e gerações deles – mesinha de bar tranqüilo, cerveja gelada no copo, músicas na altura certa para amenizar dores de amores. E que não nos venham estacionar as ruas os famigerados “carros-bomba” com seus infernais aparelhos de som, milhares de watts despejados sobre tímpanos sensíveis. Afinal, pelo que sei, porta-malas foram criados para guardar objetos, inclusive, claro, malas. Não! Que não venham os donos dos “carros-bomba” tentar infligir aos do quieto Benfica uma prática que parece buscar suprir – através da potência eletrônica de seus autofalantes – suas carências por dotes mais avantajados ou desempenhos sexuais menos pífios, se é que me faço entender. Isso não permitiremos, como tantas vezes já não permitimos.

E que a saudade de tua estrutura atual, Benfica de guerra, nunca se torne verdade, jamais se aplicando a você as sábias palavras do eterno mestre Sânzio de Azevedo: “Quando um homem perceber mudanças nas ruas pelas quais há tempos caminha, ou começar a lembrar de coisas que já não mais existem, ele estará ficando velho... E sábio”. Quero ficar velho te vendo igual, não por teimosia do idoso chato que provavelmente serei, mas por conhecer, assim como uns outros poucos felizardos que te habitam, certos segredos de tua geografia. Geografia esta que perdeu, no último novembro, a casa de Moreira Campos, demolida e devorada que foi. Virou estacionamento o solo doméstico e cultural que por tantos anos foi pisado pelo maior contista cearense de todos os tempos. Casa que também serviu de abrigo a uma menininha que, sem medo de rotulações, decidiu por seguir os caminhos do pai famoso: Natércia Campos, amiga tão cedo retornada ao seio de Deus. Natércia, ironicamente a autora do já célebre romance A Casa. Ironia das ironias.

Ante esses rompantes de pseudo-modernidade, meu Benfica de Epicuro, Benfica de quintas tão aprazíveis, só me resta sonhar-te tempos melhores, onde a silenciosa revolta de teus habitantes e a História deste Ceará quase sem memória se encarreguem de dar conta dos dias que virão, ceifando as asas capitalistas que hoje sobrevoam teu casario desguarnecido.
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Túlio Monteiro é escritor e crítico literário.

16 de agosto de 2010

II PRÊMIO NACIONAL IDEAL CLUBE DE LITERATURA





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13 de agosto de 2010

Prêmio para escritores inéditos inscreve em diversas regiões da Paraíba

As inscrições para o Prêmio SESC de Literatura encontram-se abertas nas categorias Conto e Romance. O concurso é promovido pelo Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio e no estado da Paraíba os autores devem procurar as Unidades do SESC em João Pessoa, Campina Grande, Guarabira, Patos, Sousa e Cajazeiras, para efetuarem as inscrições e submeterem suas obras a análise de Comissões Julgadoras compostas por especialistas em literatura, escritores, jornalistas e críticos literários.
O concurso pretende premiar textos inéditos, escritos em língua portuguesa, por autores brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. Cada participante, que não poderá ter nenhum livro publicado, deve participar com apenas uma obra inédita em cada categoria, sendo que de 130 a 400 laudas para Romances; e 70 a 200 páginas nos Contos, com o texto digitado no Word, em apenas um lado da página, fonte Times New Roman tamanho 12, estilo normal, cor preta, parágrafo de alinhamento justificado, espaço entrelinhas duplo, todas as margens 2,5 e impressos em papel A4.As inscrições serão encerradas no dia 30 de setembro, ficando a divulgação do resultado prevista para o mês de março de 2011. O vencedor de cada categoria terá sua obra publicada e distribuída pela editora Record, cabendo o direito a 10% do valor de capa na comercialização em livrarias, além de distribuição na rede de bibliotecas do SESC no País e outros espaços culturais.
As comissões julgadoras poderão indicar, a seu critério, até três obras cujos autores receberão menção honrosa, sendo que o único critério para seleção das obras vencedoras é o mérito literário, cabendo ao júri final a decisão, que será soberana e não suscetível de apelo. Para o autor vencedor de cada categoria, a viagem será custeada para o Rio de Janeiro, por ocasião da entrega dos prêmios, em julho de 2011.
As inscrições são gratuitas, sendo vetadas as participações de funcionários e parentes da editora Record, SESC, Fecomércio e pessoas envolvidas no processo de julgamento do concurso. Também é determinado que, ao se inscrever no Prêmio SESC de Literatura 2008, o candidato estará automaticamente concordando com os termos do edital.
No ano passado, durante o concurso, o SESC-PB também foi escolhida para sediar o processo de análise das propostas inscritas nos estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, além da própria Paraíba, que teve seis trabalhos inscritos e 69 dos demais estados do Nordeste. A comissão julgadora foi composta por Rinaldo Fernandes e Amador Ribeiro, e em 2007 a dupla de análise foi integrada pelo poeta Políbio Alves e o crítico literário Hildeberto Barbosa Filho. A edição 2009 ficou com Prosa de Papagaio, da mineira Gabriela Guimarães Grazzinelli, na categoria Romance; e Cavala, do carioca Sérgio Tavares, com melhor coletânea de Contos.
Informações adicionais sobre como e para onde enviar as inscrições podem ser obtidas no SESC Centro João Pessoa, que fica na Rua Desembargador Souto Maior, 281, Centro, ou pelo telefone 32083158.
ACE- ASSOCIAÇÃO CEARENSE DOS ESCRITORES

PARTICIPE DA 1ª ANTOLOGIA DE CRÔNICA, CONTO, POESIA


INSCRIÇÕES: 01/07–03/09/2010
Lançamento: 30/10/2010
Rua Princesa Isabel, 817. Centro.
60015.060
3214-25-39/ 3231-53-31


A saga de uma unha do dedão do pé direito

Bem, se todo cronista tem o direito de passar a vida chafurdando seu próprio umbigo, como se todos nós leitores estivéssemos muitíssimo interessados nele, acho que, como projeto mal acabado de escrevinhador de província, também tenho o direito de fazer certas digressões sobre uma parte do meu corpo não tão nobre: O Dedão do Pé Direito, ou melhor, sobre a Unha do Dedão do meu Pé Direito.

Explico antes, o dedão do meu pé direito não é uma parte do corpo tão desprezível assim, pois quando criança e adolescente me deu destaque no futebol como um bom batedor de “bicudo” (coisa que pouquíssimos jogadores de futebol foram capazes, mais recentemente só o artilheiro Romário conseguia bater com maestria de bico de pé). A ponto de ter sido apelidado de “Pedro Bicão”, tamanha a facilidade pra bater na bola com essa esquecida parte do corpo, e, diga-se de passagem, com direção e força. Sempre consegui botar a “redonda” onde queria com o bico de pé.

Mas, descambando dos 40 rumo aos 50, ultimamente o velho bico de pé voltou à sua costumeira insignificância, tendo como tarefas mais nobres furar meias, segurar linha de anzol e uma que outra topada. E esquecido do glorioso dedão ia eu em viagem para Fortim, perto de Aracati, onde o rio Jaguaribe adentra o mar, quando uma criança se trancou no banheiro do ônibus, e fui eu tentar salvar o barulhento pimpolho. Final da cena que não quero lembrar, o garoto livre e eu com a unha entre a porta do banheiro e o carpete do piso. Dor intensa, unha de imediato pretinha de sangue pisado. Uma dor insuportável, uma vontade de urinar nas calças, um manquitolar de volta pra minha poltrona. O dedo todo preto, dormente por um tempo e doendo muito em seguida. Nada de gelo para pôr no local.

Chegando ao destino a decisão de não estragar o passeio por tão “simples” acidente. Aguentei a dor, travei os dentes e fiz de conta que não era nada. Fomos, criançada barulhenta, família desorganizada e eu (triste) atrás para a costumeira barraca de praia (graça a Deus quase vazia). Lá pus o pé sobre um tamboretinho de madeira e fiquei assoprando de longe, lágrimas pra cair no canto do olho. Foi quando seu Dadá (marido de Joana, a barraqueira amiga de muitos anos), jangadeiro experiente, percebeu a arrumação e deu o diagnóstico de unha perdida, sem jeito, e aproveitou e passou o primeiro de uma série de remédios usados por mim nesta saga pelo alívio da dor: “Tinta de Caneta!”... “Como?”, perguntei incrédulo. “Tinta de Caneta! Seca e depois cai!!!”, e foi logo providenciando a dita Bic azul sem tampa e com a metade avariada pelo uso... E lá me vi eu, enquanto crianças faziam castelos de areia, adultos descosturavam caranguejos, riscando pacientemente a minha dolorosa unha do dedão do pé direito. A companheira pondera, como tentando aliviar o ridículo da cena, que talvez seja verdade, pois a violeta genciana usada em ferimentos e machucaduras era também azul.

O dia passado a custos não deu o alívio esperado para a noite, agora a maldita unha latejava. Fomos ao hospital da cidadezinha, sexta à noite, sem médico (uma vergonha que já virou hábito: uma criança com falta de ar tentava desesperadamente chorar e não conseguia, um enfermeiro inutilmente tentava dar um jeito), me mandei prum hospital particular em Aracati, espera (o médico jantava, ou cochilava, ou não sei o quê...), uma olhada rápida sem levantar da cadeira, um antiinflamatório na receita. Saí puto em direção à farmácia.

O alívio do remédio permitiu dormir em paz, no dia seguinte (glorioso sábado de um sol maravilhoso) a dona da pousada vaticinou novamente: “Vai cair”... “É bom pôr um pouco de água quente de noite pra desinflamar”... Mas como conseguir água quente, bacia adequada para um banho-maria de alívio? Fui desta vez para a foz do rio e caminhei pacientemente em direção ao encontro com o mar, o dedo já inchado, luminoso e saindo uma gloriosa secreçãozinha pelo canto da unha. Sentei numa pedra e enfiei o pé na água salgada, cobri com um pouco de alga marinha. Fiquei me lembrando da infância, quando passávamos frequentemente por problemas parecidos e até piores, simplesmente jogávamos um pouco de terra em cima (quem foi criança e nunca usou este infalível método?) e pronto.

Mais uma tarde de capengado caminhar, sem querer admitir batalha perdida. Acompanhando a custo a turma feliz que ganhava a praia, a praça. De noite consegui um pouco de água morna, que de pouco adiantou. O retorno adiantado pra Fortaleza, a esperança do alívio imediato com a volta pra casa. Ledo engano. Mas agora a higiene demorada, a água quentinha três vezes ao dia. Quarta a ida a outro médico, que se admirou da infecção e passou antibiótico, comprimido pra dissolver na água quente e pomada noturna. Nada disso deu resultado! Uma semana depois novo e fortíssimo (e caríssimo!) antibiótico! Uma semana depois o vaticínio: Uma pequena cirurgia pra extrair a unha! A simples notícia já me foi bastante dolorosa, porém seria enfim o alívio... Engano, antes uma bateria de exames de sangue (suspeitavam de diabetes, causando a demora da cicatrização), continuando o tratamento passado antes pra desinflamar...

Hoje completou três semanas de sofrimento e já começo a contar os minutos pra extração da unha (prometi a mim mesmo que a pintarei de novo de azul e a pendurarei no pescoço, em promessa até o fim do ano). Antes já experimentei pelo menos uns quinze remédios diferentes, passados pelos amigos, familiares, curiosos... Ontem fui a uma benzedeira no final do Montese, que garantiu que não demorará a cura.

De bom apenas a solidariedade geral: o atencioso chefe na repartição me deu dois dias de folga (e contou um caso idêntico vivido por ele), minha mãe fez chás e liga todo dia, em casa uma vida de rei, todos olhando pra mim com certa pena. Na rua tratava de manquitolar um pouco mais, o passante olha e põe a mão na boca com espanto. Descobri que (como disse Nélson Rodrigues, mas atribuindo a frase a Otto de Lara Rezende: “O mineiro só é solidário no câncer!”) todo cearense é solidário com unha bichada!

Aprendi muito de medicina caseira, da convencional também. Esta semana fui ao consultório de um muito bom médico e boa gente, Dr. Veras, que recentemente perdeu três dedos do pé por conta de uma simples infecção na unha, nas complicações da diabetes. Ele me prestou solidariedade, aprovou com elogios o tratamento passado pela minha irmã médica Rute, e me receitou paciência, que não extraísse a dita cuja, não fizesse mais um trauma no meu já tão sofrido dedão do pé direito.

Bom, mais de três semanas de sofrimento, dor, raiva, paciência, automiseração, ainda padeço do problema, e agora mesmo, enquanto completo esta mísera crônica, feliz por ter passado a manhã olhando de vez em quando pra unha sequinha e desinchada, percebo um filetinho de secreção bem no canto dela, que curiosamente ainda tem resquícios da tinta azul do primeiro remédio.

P.S.: Também preocupa que já começo a me acostumar com o problema, e ontem à noite me flagrei bolando uma maneira de, assim que sarar, machucar outra unha, só que desta vez do dedo mindinho do pé esquerdo...

Pedro Salgueiro é escritor e funcionário público. Publicou alguns livros de contos (O Peso do Morto, O Espantalho, Brincar com Armas, Dos Valores do Inimigo e Inimigos), um de crônicas (Fortaleza Voadora). Tem no prelo um panorama do conto fantástico no Ceará (O Cravo Roxo do diabo) e um livro de contos curtos (Movimento Esperado).

Jornal O Povo – 13/08/2010

9 de agosto de 2010

Minh'avó

por Nirton Venâncio


Minh’avó caminhava pela grande casa.
Minh’avó muito pequena, até um dia desses,
caminhava pela grande casa.
Continuava com seus passos
seu cansaço
seus laços.

Minh’avó alterou a lei da física:
carregava no seu espinhaço tão frágil
décadas décadas décadas
datas datas datas
dias dias dias
carregava festas
aniversários
e algumas compras
carregava guerras
revoluções
e algumas brigas.


Teimosa, não se dava conta de toda essa carga
e olhava pela janela
o automóvel na rua
a moça na calçada
e ninguém mais em direção à igreja.
Nirton Venâncio



Cofre


Quando quiseres
venhas
e gires com as pontas dos dedos
o meu coração.
Encontrarás
teus segredos nos meus olhos abertos.
Guardo no peito
o íntimo
de quem se achega.

Pedro Salgueiro


Fronteira
O vasto horizonte mirado com angústia: primeiro as sobrancelhas cerradas, a mão em pala; depois os óculos claros, vislumbrando ínfimos detalhes; mais além o binóculo rápido; e por fim a luneta de tripé apoiada no peitoril da janela. (A porta da frente travada, os galhos ressequidos sobre o muro.)
Em cima da mesa, o antigo manual de técnicas de fuga, de caminhos alternativos, de atalhos perfeitos. Aos seus pés a gasta bússola, mapas encardidos e rabiscados nos trópicos. A xícara de café esquecida; a bagana de cigarro inútil nas cinzas. (Quanto mais longe... — o país distante, um mundo imaginário, paisagens de televisão.)
Os olhos peritos não enxergam mais os pés sujos, as unhas compridas, o filete de baba maculando o colarinho, as baratas no canto escuro do quarto. No quintal o verde úmido dos musgos, o tronco seco da goiabeira, os cacos de telhas trocadas no último inverno.
Rangendo leve, a cadeira de balanço da companheira triste, também esquecida dos filhos distantes, a esperar eternamente pelo retorno das andorinhas, o cantar dos galos nos quintais vizinhos, rezando uma prece em silêncio, no mais absoluto silêncio...
Por último, cavou trincheiras no jardim e montou observatório no galho mais alto da ingazeira do quintal. Canto algum ficou descoberto de um possível ataque. Testou todos os alarmes, checou lunetas e binóculos, lustrou a velha espingarda. E nem se deu conta de que o adversário, zeloso de seus cuidados, se infiltrara há muito em sua guarda, já organizava junto com ele as mil situações de defesa, sussurrando em seu ouvido opiniões absurdas, desfocando lentes, cuspindo debochado no assoalho da sala enquanto ganhava a confiança de sua companhia. (Se não olhasse para tão longe já o teria visto, de sorriso maroto, destampando as panelas no fogão.)
Do livro Inimigos

6 de agosto de 2010

Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista

Freud, ciência e sonho


Ao doutor Sigmund Freud não bastaram os registros bíblicos e sacerdotais sobre os sonhos. Buscou caminhos outros, como os da filosofia e das ciências médicas. Analisou os princípios socráticos, segundo os quais os homens têm desejos e prazeres. Por vezes, contrários à lei, devido à bebida ou ao temperamento. Da convivência do pacífico e sensato com o bestial e selvagem, a alma seria a razão da prevalência daqueles. Para afastar pesadelos e sonhos coléricos, o filósofo maior aconselhava purificação antes do sono.
Nos diálogos de Platão, encontrou causa fisiológica e natural a explicar os acontecimentos sonhados. O discípulo de Sócrates fez-se contrário àqueles que os viam como mensagens metafísicas, sobrenaturais. Divinas ou demoníacas. Discordou de Homero e de suas justificativas lendárias e mitológicas, porém, com breves comentários. Na era helênica e até o final do século IX, nenhum destaque maior descobriu no conhecimento filosófico ou médico.
Freud também pesquisou todos os estudos existentes à época, em especial as técnicas hipnóticas aplicadas pelo afamado neurologista e psiquiatra Jean-Martin Charcot, considerado o Pai da Neurologia, quando em 1885, no Hospital Salpêtrière, delas participou como seu assistente.
Veio 1900. O mundo conheceria um clínico vienense que estabeleceria o método psicanalítico. E o novo século despertou com “A Interpretação dos Sonhos” (Die Traumdeutung), obra impressa em novembro de 1899 que inovou a literatura sonial.
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, expressou o psicanalista em seu livro. E defendeu enunciados. Na maioria, eles representariam exteriorização de anseios insatisfeitos ou, ao menos, “incoerentes, confusos e faltos de sentido”. Derivariam de frustrações ou temores sexuais. Resultariam, em verdade, de desejos reprimidos. Afastou-os de premonições ou mensagens do além. Defendeu-os instrumento revelador da personalidade, da natureza humana, identificador do sujeito, jamais constituídos de sentimentos morais.

O esquecimento da maioria dos sonhosos dizia ser mecanismo de defesa do superego.
Artigo publicado no jornal Diário do Nordeste, 6/08/2010

4 de agosto de 2010

Tremei, Stanislaw Ponte Preta

Literatura é coisa séria. Expressa conceitos, opiniões, sentimentos, histórias. Há também o lado jocoso, em algumas ocasiões beirando o extravagante. Abordagens do famoso Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País, do incomparável cronista Sérgio Porto sob o alter ego de Standislau Ponte Preta, são bons exemplos de uma peculiar seriedade. Mas não é o caso de uma das resoluções do II Congresso de Escritores, Poetas e Leitores do Ceará, evento realizado há uma semana em Fortaleza. Os nossos, digamos, “expoentes das letras”, pariram uma piada que merece entrar para o vasto anedotário do Estado. Na terra do humor, os “escritores, poetas e leitores” reunidos naquele, também digamos, sodalício saíram crentes de que podem rivalizar com personagens como Didi Mocó, Tiririca, Rossicléa, Raimundinha, Zé Modesto e outros. E decidiram “Encaminhar para a Fifa a sugestão que o símbolo da copa de 2014 seja um chocalho”. Não se sabe o que futebol tem a ver com isso, mas uma coisa é certa: uma das formas do chocalho é a do objeto que se põe no pescoço de bichos.


Chocalho e vaquinha
Se os nossos criativos escritores quiserem mesmo enviar a brilhante sugestão à Fifa, o endereço é Fifa House 11 Hitzigweg, 8030 – Zurique, Suíça. O telefone é + 41 – (0) 43 227-77-77. E fazer uma vaquinha nem será penoso: a tarifa dos Correios para correspondências de 300 gramas – uma idéia assim não pesa mais do que isso –, em envelope grande, custa R$ 14,75. Mas pode levar 15 dias para chegar lá.

Artigo publicado no Diário do Nordeste, 31/07/2010. Caderno 4/ política.