Freud, ciência e sonho
Ao doutor Sigmund Freud não bastaram os registros bíblicos e sacerdotais sobre os sonhos. Buscou caminhos outros, como os da filosofia e das ciências médicas. Analisou os princípios socráticos, segundo os quais os homens têm desejos e prazeres. Por vezes, contrários à lei, devido à bebida ou ao temperamento. Da convivência do pacífico e sensato com o bestial e selvagem, a alma seria a razão da prevalência daqueles. Para afastar pesadelos e sonhos coléricos, o filósofo maior aconselhava purificação antes do sono.
Nos diálogos de Platão, encontrou causa fisiológica e natural a explicar os acontecimentos sonhados. O discípulo de Sócrates fez-se contrário àqueles que os viam como mensagens metafísicas, sobrenaturais. Divinas ou demoníacas. Discordou de Homero e de suas justificativas lendárias e mitológicas, porém, com breves comentários. Na era helênica e até o final do século IX, nenhum destaque maior descobriu no conhecimento filosófico ou médico.
Freud também pesquisou todos os estudos existentes à época, em especial as técnicas hipnóticas aplicadas pelo afamado neurologista e psiquiatra Jean-Martin Charcot, considerado o Pai da Neurologia, quando em 1885, no Hospital Salpêtrière, delas participou como seu assistente.
Veio 1900. O mundo conheceria um clínico vienense que estabeleceria o método psicanalítico. E o novo século despertou com “A Interpretação dos Sonhos” (Die Traumdeutung), obra impressa em novembro de 1899 que inovou a literatura sonial.
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, expressou o psicanalista em seu livro. E defendeu enunciados. Na maioria, eles representariam exteriorização de anseios insatisfeitos ou, ao menos, “incoerentes, confusos e faltos de sentido”. Derivariam de frustrações ou temores sexuais. Resultariam, em verdade, de desejos reprimidos. Afastou-os de premonições ou mensagens do além. Defendeu-os instrumento revelador da personalidade, da natureza humana, identificador do sujeito, jamais constituídos de sentimentos morais.
O esquecimento da maioria dos sonhosos dizia ser mecanismo de defesa do superego.
Artigo publicado no jornal Diário do Nordeste, 6/08/2010
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