A Ace foi fundada em 21 de setembro de 2007. Mesmo nos primeiros passos desta infância já conquistou estas vitórias:


-Concurso Literário Eduardo Campos de Crônicas e Contos, com a participação de 120 autores e entrega do prêmio para os vinte autores com os melhores textos literários.

-Edição do livro Antologia de Contos e Crônicas Eduardo Campos, do referido concurso.

-Lançamento e distribuição do jornal FormAção Literária e do folheto didático Novo Acordo Ortográfico

-Instalação da sede da Ace no Sigrace, para funcionamento da secretária executiva, e auditório climatizado.

-Criação do site www.escritores ace.com.br, com a loja virtual do escritor.

-Participação na 9ª Bienal Internacional do Livro,

-Nomeação de dois associados para o Conselho Estadual de Cultura (CE) e participação efetiva nos Fóruns de Cultura Cearense, entre eles o Flec.

-Implantação da campanha Seus cupons velem livros, com o objetivo de divulgar a literatura cearense através dos escritores da Ace.

-Criação da Coordenação Literária, da Assessoria Literária para os escritores cearenses.

-Criação da Diretoria de Artes Cênicas e do Concurso Literário Rachel de Queiroz de Conto e Poesia.

-No último sábado do mês realizamos um evento cultural- palestra, lançamento de livro, sorteio de livros.


DIRETORIA DA ACE PARA 2012/2013

Presidente de Honra: Haroldo Felinto

Presidente Emérito: Francisco de Assis Almeida Filho

Presidente: Francisco de Assis Clementino Ferreira- Tizim

Vice-presidente: Linda Lemos

1º Vice-presidente: Francisco Bernivaldo Carneiro

1º Secretária: Sonia Nogueira

2º Secretário: Gilson Pontes

1º Tesoureiro: Antônio Paiva Rodrigues

2º Tesoureiro: Abmael Ferreira Martins

Diretor de Eventos: Silas Falcão

Diretores adjuntos de eventos: Eudismar Mendes, Romenik Queiroz, Lúcia Marques, Francisco Diniz, Márcia Lio Magalhães.

Diretor de Artes Cênicas: Aiace Mota

Diretor cultural: Cândido B. C. Neto

Diretora cultural adjunta: Fátima Lemos

Cerimonialista: Nicodemos Napoleão

Coordenador de Literatura: Lucarocas

Coordenador adjunto de Literatura: Ednardo Gadelha, Carlos Roberto Vazconcelos e Ana Neo.

Secretaria de Comunicação e Divulgaçã: José Onofre Lourenço Alves

Secretário Adjuntos: Geraldo Amâncio Pereira, Fernando Paixão, Pedro Cadeira de Araújo


Conselho Consultivo

Presidente: Francisco Muniz Taboza

Vice-presidente: Domingos Pascoal de Melo

1º vice presidente: Elson Damasceno.

Membros Efetivos: D. Edmilson Cruz, Juarez Leitão, Ubiratan Diniz Aguiar, José Moacir Gadelha de Lima, José Rodrigues, João Bosco Barbosa Martins, Pe. Raimundo Frota.

Conselho Fiscal

Presidente: Affonso Taboza

Membros Efetivos: Jeovar Mendes, Rejane Costa Barros, Girão Damasceno, Cícero Modesto.

30 de setembro de 2010



PRELÚDIOS POÉTICOS: ROMANTISMO E REGIONALISMO

Sânzio de Azevedo
Ministrando aulas no Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará-UFC ou escrevendo em jornais e revistas de nossa terra, há mais de trinta anos tenho lutado contra uma lenda que teima em vir à tona, vez por outra. Essa lenda é a de que Juvenal Galeno só começou a fazer poesia de caráter popular depois de um conselho que recebera de Gonçalves Dias, que estivera no Ceará em 1859.

Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), em livro cuja primeira edição é de 1928, depois de afirmar que a atividade literária no Ceará começou exatamente “com a chegada de Gonçalves Dias, refere-se aos Prelúdios poéticos, publicados por Juvenal Galeno no Rio, em 1856. E completa: O estreante de 20 anos procurou naturalmente o grande cantor das selvas e dos índios. E este aconselhou ao poeta imberbe que se deixasse de versos acadêmicos e que procurasse no povo e na terra a matéria poética dos seus versos.[1]

É o caso de perguntar: se os poemas do primeiro livro do autor cearense nada tinham da musa do povo, em que Gonçalves Dias se teria fundamentado para dar esse conselho?

O pior é que um grande escritor cearense, nada menos que Antônio Sales, afirmou, num livro do final dos anos trinta, após falar do Romantismo: Foi esse um áureo período do pensamento brasileiro. Juvenal Galeno, obscuro e mal aclimado ainda, entrou como pôde no torvelinho, e aos vintes anos (1856) publicava os seus “Prelúdios Poéticos”. Suponho nada terem de comum esses versos com o gênero a que Juvenal se consagrou depois, tornando-se inimitável. Tenho mesmo motivos para afirmar que os “Prelúdios” se cingiam muito de perto a modelos que não eram, como para uma grande parte dos poetas de então, Lamartine ou Byron.[2]

Note-se que o autor de Aves de arribação demonstra claramente não ter à mão o livro de Galeno, usando expressões como “Suponho” ou “Tenho mesmo motivos”. Infelizmente, durante muitos anos os Prelúdios poéticos, devido à sua raridade, eram inacessíveis, e com base principalmente na autoridade de Antônio Sales cheguei a acreditar fossem ainda neoclássicos os primeiros versos do poeta, não obstante sua convivência, na então Capital do Império, com Machado de Assis, Quintino Bocaiúva, Joaquim Manuel de Macedo e outros vultos do Romantismo brasileiro.

Foi então que um amigo, o saudoso bibliófilo cearense José Bonifácio Câmara, forneceu-me cópia do livro, em cuja folha de rosto se lê: “PRELÚDIOS POÉTICOS / de / Juvenal Galleno da Costa Silva / Natural do Ceará / (vinheta com uma lira enramada) / Rio de Janeiro / Typ. Americana de José Soares de Pinho / Rua da Alfândega n. 210 / 1856.”

Folheando esse livro, deparei-me logo com a presença avassaladora do Romantismo, não somente na dicção do poeta cearense, mas também nas epígrafes de Victor Hugo, Alfred de Musset, Lamartine, Alexandre Herculano, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Gonçalves de Magalhães e outros.

Os metros usados são típicos da corrente, como o decassílabo, em “Numa noite de luar”:

Ah, vem querida virgem, vem meu anjo;
Tão medrosa não fujas, cara amante!
Contempla o vasto mar, contempla a lua,
Ouve a onda gemer pouco distante.

Como o verso de sete sílabas, ou redondilho maior, em “O Cravo desprezado”:

Em teu raminho verdoso
Eras belo a vegetar!
Tão garboso, pelos ares
Doce aroma a espalhar.

Não falta o eneassílabo, verso de nove sílabas, em seu andamento anapéstico. É o caso de “A Enjeitada”:

Eu a vi!... Triste pranto banhava
Sua face tão linda e corada!...
Era jovem e já desditosa,
Era, oh Deus! uma triste enjeitada!...

Nem o hendecassílabo iâmbico-anapéstico, o mesmo que abre o poema “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias. No livro do poeta cearense, temo-lo em “Cismar”:

E a lua vagava nos Céus infinitos,
Tão bela qual virgem sozinha pensando!
E eu era mui triste no adro do Templo
Na laje marmórea, na vida cismando!

É genuinamente romântico o poeta que, em versos cheios de amargura, derrama-se na confissão desses decassílabos do poema “Sou triste”:

Sou triste como a linfa suspirosa
Entre a selva de noite serpeando;
Sou triste como a rosa murchecida,
Que a fera ventania vai levando...

O subjetivismo, a tristeza explícita, as comparações, o vocabulário, a adjetivação, tudo nesses versos remete para a escola de Musset e Lamartine.

É verdade que, às vezes, ressumam leves reminiscências neoclássicas (o que é compreensível num leitor de Gonçalves de Magalhães), como neste trecho, em tetrassílabos (de quatro sílabas), de “Adeus, Aratanha!”:

Triste suspiro
Solto do peito,
Que da saudade
Jaz tão desfeito!

Mas diga-se a verdade: de neoclássico há aí unicamente o metro. Esse suspiro saudoso é característico da escola romântica, dentro da qual nasceu literariamente o jovem poeta.
Entretanto, não foi apenas Romantismo que encontrei nos versos desse livro: lá estão, vivas, se bem que ainda não em sua melhor forma, as notas regionalistas precursoras da poesia de raiz popular que haveria de consagrar Juvenal Galeno.

E antes que alguém afirme que os poemas do livro são ainda bisonhos, bem longe da arte de “A Jangada” ou do “Cajueiro pequenino”, lembro que em literatura há dois tipos de importância, a estética e a histórica. Os Prelúdios poéticos têm valor histórico porque abrigam os primeiros textos de caráter romântico e regionalista do poeta, inspirados pela musa popular.

Distante de sua terra natal, espraiava-se o bardo, em junho de 1856, nos heptassílabos de “A Noite de S. João”:

Em minha terra a estas horas
Eu sorria alegremente,
Tirava sortes co’as moças,
E brincava tão contente!
Era ledo e folgazão
Em noite de S. João!
Pulava destro e sorrindo
Por cima duma fogueira,
Aplaudido sendo sempre
Por menina feiticeira!
Brincava com tantas belas,
Por S. João ― compadre ― delas!

Era sem dúvida o prenúncio daquele poeta observador que, embora romântico, anotava de maneira mais ou menos realista todas as facetas do viver do nosso povo. No mesmo poema, há este trecho que revela a crença das jovens casadoiras:

Um sorriso de menina,
Que tirou sorte bonita...
Um suspiro doutra moça,
Que na sorte lê: ― desdita!...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Uma vai atrás da porta
Co’a boquinha cheia d’água,
Ouve um nome... é do seu noivo,
Tem prazer ou sente mágoa!

Também o homem do mar, que haveria de merecer-lhe versos duradouros, está presente nas rimas do estreante, como em “A Canção do jangadeiro”, na qual diz, entre outras coisas:

Rema, rema, jangadeiro,
Vai tua esposa abraçar,
Ver os tão tristes filhinhos,
Que já choram de esperar!
Rema, rema, jangadeiro,
Pobrezinho aventureiro!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Tua esposa, cuidadosa,
Teus vestidos a enxugar,
Quanto é terna e desvelada,
Quanto é firme o seu amar!
Rema, rema, jangadeiro,

“A Canção do jangadeiro”, como vários outros poemas do livro, foi escrita no Ceará, em 1855. Desse mesmo ano é a “Cantiga do Violeiro”, que traz esta indicação entre parênteses: “poesia popular”, o que é significativo. É esse poema formado de versos de sete e de quatro sílabas:

Nas cordas desta viola
Quando toco e vou cantando,
Meu coração contristado
Em prazeres vai nadando.
A vida passo
Assim cantando,
Assim tocando
Numa função!
D’amor o laço
Já me prendeu!
Já se rendeu
Meu coração...

Não é fora de propósito imaginar que Gonçalves Dias, ao receber do então jovem poeta um exemplar de seu livro, viu que nele o que havia de mais original eram os poemas de cunho popular, daí, sim, o conselho para que o autor desenvolvesse essa faceta de sua inspiração.

Os Prelúdios poéticos representam, a meu ver, o marco inaugural, não da literatura cearense (pois sigo a opinião de Dolor Barreira, ao considerar como tal as produções dos Oiteiros, do tempo do governador Sampaio), mas do Romantismo no Ceará, o que não é pouco.

Ao enfrentar pela primeira vez o público ao qual se destinavam seus versos, o jovem poeta se apresentava timidamente, escrevendo com humildade palavras deste teor: “Quando lerdes este livro, lembrai-vos de seu título, da tenra idade de quem o escreveu, e sede indulgentes.”[3]

Diante de tudo que aqui foi exposto, não há razão para que se repita a afirmação infundada de que os Prelúdios poéticos nada tinham de romântico ou de regional.

Juvenal Galeno, já em seu livro de estreia, fazia palpitar, ainda que timidamente em seus versos de principiante, a alma do povo cearense, da qual ele seria, nove anos mais tarde, o legítimo intérprete, nas Lendas e canções populares.

Fonte: http://raymundo-netto.blogspot.com/

24 de setembro de 2010


O homem, o sal e o velho

Carlos Mourão

Trancou a porta, dando duas voltas na fechadura e tentando uma terceira que nunca viria, e saiu para a rua. Colocou as chaves no bolso, conferiu se havia pegue sua carteira, seu cartão e bateu a mão no bolso esquerdo da blusa branca para ver se o cigarro estava mesmo lá.

Sim, estava, porém no final. Nota mental imediata: comprar cigarros na banca de revistas. Não esquecer também das balinhas de menta, para se sentir limpo. Apressou o passo para chegar à banca antes do ônibus passar.

Na banca, havia um rapaz de calça jeans rasgada, blusa preta, piercings, com fones no ouvido, lendo uma revista sobre yoga e budismo. Em seu colo, uma revista aberta com fotos de tatuagens, mostrando uma mão de Fátima e o Om.

Ao seu lado esquerdo, uma moça com uma saia indiana dentro de uma bolsa reciclável, além do shampoo e de uma escova de cabelos. Comprava um chiclete de menta, uma coca-cola e um biscoito de chocolate. Jogava tudo na bolsa, segurava a lata e catava as moedas enquanto falava ao celular avisando que iria demorar um pouco, mas chegaria em 23 minutos. Assim mesmo, bem precisa, mas não sabia o ônibus que iria pegar.

O dono da banca disse qual o ônibus pegar, olhando para os seus seios e umedecendo os lábios. Tirou a caneta de cima do balcão de vidro, anotou num pedaço de papel o número dos coletivos que ela poderia pegar e, no seu verso, um número qualquer de telefone. Possivelmente o dele, mas ela não percebeu ou fingiu não perceber.

Senhoras caminhavam ao redor da praça em que ficava a parada do ônibus. Usavam bonés, blusas grandes e com algumas propagandas, além dos terços nas mãos direitas. Seus olhares eram curiosos, conservadores e indiscretamente discretos quando falavam dos jovens que iam para suas aulas ou vinham de algum bar.

Enquanto comprava seu cigarro, olhou para o relógio de um homem branco e careca (por opção), e viu que eram quase sete horas da manhã. Lembrou que era quinta-feira, véspera da véspera do fim de semana. Lembrava também que tinha muitas pendências e que queria viajar no fim de semana, mas não tinha dinheiro, pois era dia 21, sinônimo de resto de salário e que devia comer menos de quatrocentos gramas no self service perto do trabalho para não faltar dinheiro.

Do outro lado da rua vinha uma travesti arrasadíssima, maquiagem borrada e praguejando do salto alto. O careca (por opção) olha com desprezo e desejo para a mulher/homem, um olhar com vontade de matar a moça para matar seu desejo por ela.

Olhou novamente para o tal do careca e procurou a suástica para saber mesmo se era um skinhead. Devia estar por baixo da blusa, certamente. Pagou o cigarro e olhou para o final da rua na expectativa do ônibus chegar logo.

O rapaz que lia sobre yoga e budismo comprou a revista e tirou uma foto pelo seu celular do Om e da mão de Fátima. Em seguida, voltou a colocar os fones no ouvido e atravessou a rua, caminhando atrás de um senhor que carregava uma sacola com pães e um pacote de sal.

A moça sentou na parada e releu o papel para conferir qual ônibus pegaria. Tomou o refrigerante, comeu um biscoito e pediu um cigarro. Na palma da sua mão estava tatuada uma mão de Fátima. Tragava à medida que amassava a lata, olhando ao redor para encontrar um lixeiro, mas teve que colocar a lata na sua bolsa, pois o ônibus já estava chegando.

Deram sinal, jogaram os cigarros no chão e entraram. Tentavam encaixar seus corpos naquela proximidade tão distante, evitando o toque. Pela janela, ele percebeu que o careca (por opção) acenava discretamente para a travesti, pedindo para ela ir logo, talvez para a casa dele ou deles.
Ficou observando os dois dobrarem a esquina enquanto esperava o sinal abrir e viu um carinho dela no pescoço do careca. As senhoras, que tinham parado de caminhar para saber se os comentários eram verdade, entreolharam-se, benzeram-se três vezes e saíram falando levando a mão à boca e olhando para os lados.

Um casal chegou à parada, sentaram e logo a carona deles chegou como sempre extremamente pontual. Deram sorrisos, entraram e se enfileiram aos outros carros, motos, bicicletas, ônibus, topics e pessoas transitando.

O sinal abriu e o senhor que chegava com os pães e sal fechava o cadeado do portão. Jogou um punhado de sal na entrada da casa, puxou uma cadeira e sentou-se na varanda. Arrancou o bico do pão e mastigou calmamente, opondo-se à velocidade dos pneus e freadas no asfalto de mais uma quinta-feira.

22 de setembro de 2010


"Aíla percorre um longo caminho. Analisa os contos de Mistérios, de Lygia Fagundes Telles, valendo-se de textos de outros contistas dos séculos XIX e XX, e de todo o referencial teórico disponível. Vai à Antiguidade e Idade Média em busca das primeiras manifestações.
"Lourdinha Leite Barbosa, Professora e Escritora"Seu enfoque propõe a revisão da teoria do gênero Fantástico, cujos cânones mostram-se ultrapassados quando se constata sua realização em textos literários dos séculos XIX e XX, como se poderá comprovar com a leitura dessa obra." Francisco Bedê, Escritor
"Meu primeiro contato com Lygia foi com o ´Ciranda de Pedra´, seu romance de estreia, que traz uma abordagem psicológica dos personagens. Depois foi que entrei em contato com as narrativas curtas, e ´Mistérios´ me chamou especial atenção. Como havia estudado o gênero fantástico, interessou-me aplicar sua teoria a estes contos. Foi aí que percebi que todo fantástico é um mistério, mas nem todo mistério é fantástico.” Aíla Sampaio

21 de setembro de 2010


FEITO O CONDOR


Voei tão alto,
Voei feito o condor.
Planei com esmero a imensidão do azul
E me senti livre das amarras
Da vida terrena.
Sobrevoei os alcantis mais íngremes
E de lá, ecoei meu grito
Num rasgo indefinido, imensurável.
Voei tão alto,
Voei feito condor.
Fui mais além, atingi outras dimensões.
Evolui a alma.
Depois, ao retornar do vôo,
Rejeitar, duvidar, me fazem companhia,
Deixando-me intuir.
Aqui, quase nada se explica.
Muitas vezes, erroneamente se explica.
Fico assim, a fazer reticências.
Não sei decerto, talvez o inesperado colidiu comigo,
Precipitando-me pela atmosfera,
Restando apenas esta centelha aqui prisioneira
À espera de um vôo rasante,
De volta para o infinito.


Janaura Tavares


15 de setembro de 2010


Contos de liberdade
O escritor Ronaldo Correia de Brito lança nesta quinta-feira, 16, em Fortaleza, o quarto livro de contos, Retratos Imorais, e faz conferência sobre criação literária.
Duas mulheres em preto e branco é o conto que abre a coletânea que compõe Retratos Imorais. Amigas desde o tempo em que eram estudantes de medicina em Recife, as duas encontram-se, agora, trancadas num quarto, onde uma planeja, com detalhes, a morte da outra, enquanto refaz as pegadas do caminho trilhado por elas, anos a fio. Quando o leitor imagina que tudo se encaminha para o fim, eis que o narrador dá outro rumo à história.

Uma mistura que inclui uma boa dose de surpresa e uma pitada de incômodo, causados pela exposição de personagens múltiplos, que carregam consigo uma memória que quer libertar-se a todo custo, está presente nos 22 contos divididos em retratos: dispersos, de mães, de homens.

Ronaldo Correia de Brito, médico e escritor, diz que arrumou os textos do novo livro como um curador monta uma exposição de obras de arte. Experiência própria. Entre a medicina e a literatura, Ronaldo faz teatro e curadoria de exposições e só não faz cinema porque tem que dar expediente em dois empregos. Na década de 1970, fez um documentário (Cavaleiro Reisado) e dirigiu um longa para TV Cultura (Lua Cambará).

Nada impede, porém, que seus textos tenham uma velocidade tal que se assemelham a imagens em movimento. Seja quando imagina acertos de contas de uma vida inteira, seja quando cria um novo Jó às voltas com perguntas que Deus teima em não responder, como é o caso do conto que dá origem ao nome do livro.

Retratos Imorais é uma espécie de livro de liberdade, segundo conta o autor. Ele diz que depois de Galileia rompeu com a “mordaça do universo sertanejo” e chegou às cidades. “Agora estou mais solto para escrever o que bem quiser e transitar por onde quiser”, afirma. Até mesmo deixar de lado o sertão, tema que Ronaldo deu vida nova nos livros anteriores – As Noites e os Dias, Faca e O Livro dos Homens - e que reconstruiu com maestria no primeiro romance, Galileia, com o qual arrebatou o prêmio São Paulo de Literatura, no ano passado.

Em entrevista ao O POVO, Ronaldo Correia de Brito fala sobre o novo livro e revela como todas as artes o levam à escrita que ele escreve com “os olhos”.

O POVO - Retrato é algo que fica congelado. A literatura, pelo contrário, se move no tempo. Como você junta retrato e literatura?

Ronaldo Correia de Brito – Sempre faço curadorias para exposições de pintores, aquarelistas, gravadores e escolho as obras de arte que vou expor a partir de um conceito. Quando expus o gravador Gilvan Samico, o conceito da mostra era a exatidão. Usei essa mesma técnica para selecionar os 22 contos desse novo livro. Todos eles reproduzem imagens, retratos variados, mas sempre em movimento.

OP - Recife é o cenário comum de muitos dos retratos que você registra no seu livro. Como o lugar dita a ordem das histórias que você conta?
Ronaldo – Acho que desde o romance Galileia rompi com a mordaça do universo sertanejo e cheguei às cidades, uma trajetória que também é a de minha vida. Nesse novo livro, a paisagem predominante é o Recife, cidade onde moro há 41 anos. Se os meus personagens em paisagens de sertão já eram neuroticamente urbanos, agora estou mais solto para escrever o que bem quiser e transitar por onde quiser. É mais fácil refletir sobre questões atuais do mundo, na perspectiva de uma cidade grande e complexa como o Recife, do que preso a uma paisagem cristalizada, que nem mais existe.

OP - O cinema e a fotografia são referências constantes nos seus contos, assim como a psicanálise e o teatro. Como você observa essas referências criadas e recriadas?

Ronaldo – Às vezes, esqueço que estou escrevendo um romance ou conto e penso num roteiro de um curta-metragem, como na narrativa Homem Sapo. Misturo as linguagens e por isso meus contos são impregnados de teatro, cinema, catálogos de exposições, imagens, muitas imagens. Escrevo com os olhos. Quanto à psicanálise, não existe literatura que não seja psicanalisada, desde Freud, ou desde Dostoievski.

OP - Muitos dos contos haviam sido escritos há anos e você os refez ou os atualizou. Como se deu esse reencontro com o texto?
Ronaldo – Reescrever é bem pior do que escrever. Dá mais trabalho, dói revisitar textos guardados. Reescrever é escrever duas vezes. No conto Romeiros com sacos plásticos, bem antigo, narro a trajetória de uma romeira de Juazeiro do Norte, assunto que conheço e ao qual sempre volto. Vivi no Crato e no Juazeiro e fiz algumas romarias viajando em pau de arara. A primeira história se limitava a uma narrativa linear, sem muitas intromissões do autor. Senti necessidade, depois de 32 anos, de trazer a ação para um novo contexto, um Juazeiro do Norte desfigurado por sacos plásticos e motos. Um fotógrafo francês, Patrick Bogner, teve a mesma impressão que eu. Nas fotos dele, os romeiros estão sempre com sacos plásticos nas mãos. O meu reencontro com os textos se dá num presente desfigurado, não sei se melhor ou pior do que eu vira antes.

OP - O conto Toyotas azuis e vermelhas traz consigo um discurso metaliterário que compreende a escrita, a morte, o autor. Como você, como autor, lida com a ideia de que a escrita mata o próprio autor?

Ronaldo – Escrevemos para esquecer, para nos livrarmos da memória. Quando nos desfazemos de uma narrativa, o que acontece depois que publicamos um livro, sentimo-nos aplacados, em parte aliviados das lembranças que nos alucinavam e fustigavam. Além disso, os textos deixam de ser nossos, não nos pertencem mais. Só o leitor pode recriá-los com sua leitura.

OP - Ainda sobre esse conto, o narrador em algum momento fala: “Todas as espécies merecem sobreviver. Os escritores também”. Ronaldo – Nem lembrava dessa passagem. Você tem certeza de que a escrevi? Nunca retorno aos meus livros. Uma vez, um leitor me mandou um livro todo anotado, para o meu autógrafo. Senti verdadeiro constrangimento em abri-lo, pois já não me pertencia, era de outra pessoa, que o estava reescrevendo. Como já falei anteriormente, os escritores sobrevivem apenas através dos leitores. Nós merecemos viver, sendo lidos.

OP - Como você lê Borges? Espiando a si próprio, tal qual o personagem do conto Homem borgiano espreitando o lobo?
Ronaldo – Borges, depois da Bíblia, foi a melhor descoberta literária de minha vida. Talvez Borges seja um narrador bíblico, infinito, e por isso eu goste tanto dele. Acho que me filio a essa tradição de narradores bíblicos, contidos e ao mesmo tempo exaltados, e olho Borges como o escritor que eu gostaria de ser. Começamos a escrever assim, desejando ser como alguém que admiramos. Um dia descobrimos nossa voz narrativa, o ritmo próprio. E aí nos tornamos também escritores.

OP - Eu o ouvi falar sobre o processo de criação do conto Homem folheia álbum de retratos imorais. No final, você disse que nunca sabe como a história vai se desenrolar. Como você lida com esse mistério?
Ronaldo – É verdade, nunca sei mesmo. Nesse conto que você refere, passei anos pensando na história, mas não descobria o ritmo adequado. Emperrei, não saía do lugar. Já escrevera uma crônica sobre o personagem Claudiney Silva, narrador do conto, para a revista Continente. Quando li a história de um judeu no gueto de Varsóvia, encontrei o fio narrativo que buscava. Escrever é essa loucura, o mesmo que atravessar um rio caudaloso. Pensamos em sair num ponto e chegamos a lugar bem diferente.

OP - A partir do conto Homem buscando a cura, quem tem mais poder de curar: a medicina ou a literatura? Ronaldo – Eu não acredito em cura definitiva. Há um ponto de equilíbrio dos sintomas em que é possível tocar a vida. Ou amar e trabalhar, como refere Freud. Tanto a medicina como a literatura pode fazer bem. Embora eu prefira a literatura na perspectiva de Kafka, como causadora de transtornos. A doença também é um transtorno que a medicina busca equilibrar. Então, vamos usar as duas panaceias: literatura e medicina.
RETRATOS IMORAIS - Livro que Ronaldo Correia de Brito lança quinta-feira, 16, às 19h30min e faz conferência: Do conto ao romance: uma conversa sobre o ato de escrever. Na sede do Iprede: rua Professor Carlos Lobo, 15, Cidade dos Funcionários.
Outras informações: 3218 4000.

14 de setembro de 2010





Lançamento do livro Retratos Imorais, de Ronaldo Correia de Brito, e também a conferência “Do conto ao romance: uma conversa sobre o ato de escrever”, que acontecem no Iprede, nesta quinta-feira (16/09), às 19h30min.
Aguardamos sua presença.

11 de setembro de 2010

A Academia de Letras dos Municipios do Estado do Ceará - ALMECE - convida para a comemoração do 27 anos de fundação. Nesse evento será lançada a IV antologia da Almece. Várias pessoas do nosso meio cultural serão agraciadas com títulos honoríficos.
Dia 21/09/2010, as 19h30 na sede da Academia Cearense de Letras.

10 de setembro de 2010

“Três olhares de Clarisse Lispector”, curso no Passeio Público.

À sombra dos centenários baobás do Passeio Público, com a descontração que só a visão de um pedacinho de mar proporciona, o curso TRÊS OLHARES DE CLARICE LISPECTOR tenta nos fazer mirar o horizonte, depois de ler-ouvir as palavras de nossa escritora maior.

Veja as informações abaixo:

PROJETO FEITO À MÃO
TRÊS OLHARES DE CLARICE LISPECTOR

Curso com Miguel Leocádio Araújo

Dias 8 –15– 22 (quartas-feiras) das 14h às 18h

20 vagas (inscrições no local – quiosque do Passeio Público)

(O Passeio Público, para quem ainda não sabe, fica no centro da cidade, à frente da Santa Casa de Misericórdia na rua João Moreira, S/N)



PROGRAMAÇÃO:

1º DIA (8 DE SETEMBRO): Clarice Lispector no horizonte (um olhar panorâmico).Olhares sobre a mulher e sobre o amor em contos e crônicas.

2º DIA (15 DE SETEMBRO): Olhares sobre a criança e sobre as relações familiares em contos e literatura infantil.

3º DIA (22 DE SETEMBRO): Olhares sobre a crueldade: os problemas sociais do país em crônicas, entrevistas e cartas.

Outras informações: miguel.leocadio@hotmail.com

Fonte: http://raymundo-netto.blogspot.com/