AIRTON MONTE
O CADEIRA VOADORA
Hoje, fui acordado bem cedo por um telefonema de um amigo me informando, ainda com a voz trêmula e chorosa, que Cláudio Pereira havia morrido. Desliguei o telefone e a princípio veio-me uma sensação de não acreditar que o Pereira tinha partido desta para pior. Eu sinceramente acreditava que o Cadeira Voadora era realmente imortal. Afinal, ele já havia vencido tantas batalhas contra a morte durante todos esses anos que, para mim, já se tornara um acontecimento normal o Pereira passar uns dias em estado crítico e sair do hospital lépido e fagueiro como se nada houvesse acontecido.
Só depois que o jornal me ligou me pedindo algumas palavras sobre o Cláudio para a edição de uma matéria especial, é que vim acreditar que realmente ele já não estava mais entre nós. Desliguei o telefone prenhe de uma tristeza tão grande e com os olhos plenos de lágrimas copiosas e amargas. E pensei seriamente que a nossa turma estava indo embora um a um. Lembrei na mesma hora de Stélio Vale, de Carlos Paiva, Luciano Miranda, Augusto Pontes e agora foi a vez do Cláudio, sem falar que em janeiro deste ano quase que um câncer apressa a minha hora de também partir para a Terra do Nunca e escapei por um triz.
Eu conhecia o Cadeira Voadora há mais de trinta anos, quando Fortaleza era uma eterna festa e a casa do Pereira na Avenida Beira Mar tornou-se naturalmente o centro dessa festa que, para nós, parecia que jamais chegaria ao fim. O que posso, em um dia de despedida como hoje, escrever sobre o Pereira enquanto a noite estende seu manto negro sobre mim? Primeiro, que perdi um grande amigo e que esta cidade perdeu um ícone insubstituível da mais pura e verdadeira molecagem cearense. Um sujeito que sempre foi o centro da alegria de todas as rodas boêmias que ele enfeitava com a sua inseparável cadeira de rodas.
Pereira tinha a alma de um animador cultural e foram poucos os movimentos artísticos em que ele não deu o ar de sua graça, tanto fazia se ocupava cargos públicos ou não. Teve coluna de jornal, inventou eventos divertidos como a Garota Cultural, A queda da Bastilha, foi fiel ao Partidão até o fim. Por ser paraplégico, a maioria dos amigos mais íntimos costumava chamá-lo pelo carinhoso apelido de "Aleijado", porque sabiam que seu incomparável senso de humor levava tudo na esculhambação. Pois é, todos nós perdemos um amigo e Fortaleza perdeu um de seus filhos mais ilustres. Adeus, amigo. Ou quem sabe, até breve. Espero que seu enterro não seja triste, porque você era o símbolo da alegria.
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