MÁRIO GOMES – POETA, SANTO E BANDIDO CEARENSE
Conheci o poeta cearense Mário Gomes, andando pelas ruas de Fortaleza como um mendigo embriagado. Essa é a vida que leva desde muito tempo. Segundo Márcio Catunda – autor de uma biografia do poeta – Mário Gomes é uma espécie de um édipo bêbado a perambular pelas ruas da cidade. Seu compromisso radical é com a máxima liberdade possível. No entanto, o poeta pagou caro por isso: Foi submetido a quase todos os métodos de tortura e violência. No hospício de Parangaba, levou 12 choques elétricos aos 20 anos de idade. Nessa época de viagens, prisões, recolhimentos em manicômios já começara a se tornar o boêmio da Praça do Ferreira e começava a escrever seus primeiros poemas. Aos 60 anos de idade, o poeta é lenda viva de Fortaleza. Dizem que pirou de vez depois da morte da mãe. Na mesa do bar do Dragão do Mar resmungava que todo artista tem que ser louco… Quem o me apresentou foi Ary Scherlock que destaca a poesia abaixo dentro da obra antropofágica de Mário Gomes
AÇÃO GIGANTESCA
Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.
Mário Gomes. Um poeta realista de seu tempo. O nosso tempo, o hoje, o agora. Que bela poesia!
ResponderExcluirO Poeta: Gilson Pontes