Trechos da entrevista da escritora Ana Miranda para a revista Para Mamíferos
Ana Maria Nóbrega Miranda nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951. Cedo foi residir em Brasília, depois no Rio de Janeiro e em São Paulo; recentemente retornou ao Ceará. Publicou os livros de poesias Anjos e Demônios (1978) e Celebração do Outro (1983). Como romancista, Boca do Inferno (1989), O Retrato do Rei (1991), Sem Pecado (1993), A Última Quimera (1995), Desmundo (1996), Amrik (1997) e Yuxin (2009); além de Noturnos (1999), de contos, e da novela Clarice (1999). Tem obras publicadas em diversos países, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Alemanha e Itália. Recebeu o prêmio Jabuti em 1990 e, em 2003, Dias & Dias foi agraciado com os prêmios Jabuti e o da Academia Brasileira de Letras. Boca do Inferno foi incluído na lista dos cem melhores romances do século XX em língua portuguesa, publicada pelo jornal O Globo.
Ana Maria Nóbrega Miranda nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951. Cedo foi residir em Brasília, depois no Rio de Janeiro e em São Paulo; recentemente retornou ao Ceará. Publicou os livros de poesias Anjos e Demônios (1978) e Celebração do Outro (1983). Como romancista, Boca do Inferno (1989), O Retrato do Rei (1991), Sem Pecado (1993), A Última Quimera (1995), Desmundo (1996), Amrik (1997) e Yuxin (2009); além de Noturnos (1999), de contos, e da novela Clarice (1999). Tem obras publicadas em diversos países, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Alemanha e Itália. Recebeu o prêmio Jabuti em 1990 e, em 2003, Dias & Dias foi agraciado com os prêmios Jabuti e o da Academia Brasileira de Letras. Boca do Inferno foi incluído na lista dos cem melhores romances do século XX em língua portuguesa, publicada pelo jornal O Globo.
Desde o surgimento da primeira idéia de um livro até entregar para a editora, quais as fases pelas quais você passa? O processo é o mesmo para todos os livros ou se torna diferente para cada um?
AM- Os processos são diferentes, mas há algo em comum. As idéias de temas para livros normalmente surgem de distrações, quando deixo frestas entre minha consciência e os mundos secretos, como o mundo dos sonhos, por exemplo. As idéias surgem, e fico muito tempo, anos, ou décadas, trabalhando-as mentalmente, de forma consciente ou não, e vou juntando o material, livros que encontro em sebos ou livrarias, anotações... Quando termino um romance, sempre tenho a vontade de escrever um determinado livro, mas raramente a minha vontade é realizada, os livros se impõem, acho que a possibilidade de um livro meu ser escrito em certo momento depende de ele vir ao encontro das minhas necessidades interiores atuais, assim como eu encontrar uma chave de construção, como por exemplo, em Dias & Dias, que só foi possível quando concebi a idéia de Feliciana esperando no cais a chegada do navio que traria seu poeta amado, enquanto reconstrói sua vida e a de seu sonho. Então eu tenho a fase da idéia do tema, a fase do recolhimento do material, a fase de encontro da chave, a fase de elaboração da trama, a fase da experiência lingüística para descoberta da dicção, que é mais difícil e de onde nascem os personagens, a fase da escrita e a do acabamento.
Percebe-se que você tem uma preocupação permanente com a carpintaria literária. Quais as ferramentas de que você se vale, nesse processo?
AM- Sou consciente do processo, mesmo na flagrância da escrita, sei quase sempre por que, para que, vejo as cenas e os personagens com nitidez, minha imaginação é dominadora. Vejo bem as palavras, as construções que fiz, acho que o mais importante para um bom resultado é saber ler, precisamos saber ler o que escrevemos. O bom escritor é sempre um bom leitor. E ler a si mesmo é mais difícil. A estruturação do livro também é um processo que executo com muita consciência. Quando estou elaborando um livro percebo conexões e mais conexões, o livro se estende dentro da minha mente como uma infinita trama de elementos e significados, que vou bordando, ligando, cortando, retramando. Para construir a linguagem, que é a alma de meus livros, eu me valho de leituras. Para mim a fonte mais fascinante são os livros. Eu amo ficar em casa, lendo. Isso determina muitas coisas. As ferramentas? Paciência, dedicação e paixão pelo trabalho. Sem paixão, eu não daria conta, é demasiado para mim.
Diante de acontecimentos delirantes que beiram a ficção e que nos são mostrados na atualidade, qual a importância do escritor? Além da auto-satisfação, o que a leva a escrever, já que vivemos num país de poucos leitores?
AM- Acho que é de Mário Quintana a frase que diz que os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas, os livros só mudam as pessoas. Depois de ler um livro, a pessoa não é mais a mesma. Dessa forma, os escritores ainda têm influência na formação pessoal e social de um povo. Mas a missão mais importante do escritor de literatura é a transformação da língua em registro, o trabalho de arte com a palavra, e a busca da transcendência de nossa língua. O escritor registra a vida da língua, suas transformações, mantém seu estado de elevada espiritualidade, a literatura trabalha o Verbo, o principio de tudo.
Você é referência para as novas gerações da literatura. Como se sente com essa responsabilidade?
AM- Bem, graças a Deus não sou a única referência, mas toda a minha geração é referência para os da nova geração, é normal que seja assim, como os de gerações anteriores foram referências para mim. Espero que os jovens aprendam comigo que cada um deve ser fiel a si mesmo, e ter coragem de ser ele mesmo, e se guiar apenas e simplesmente pelas indicações interiores, da própria alma, das próprias necessidades interiores. E que amem a palavra.
BANG BANG
A literatura ajuda ou atrapalha a vida?
AM- Ambos.
O êxito foi difícil?
AM- É tão difícil vencer quanto fracassar.
Primeiro livro que comprou
AM- Com meu dinheiro, acho que foi Maiakovski
Um livro que influenciou sua escrita
AM- O grande livro da humanidade.
O livro que gostaria de ter escrito
AM- Odisséia.
O livro que se arrepende de ter escrito
AM- Não me arrependo de ter escrito, mas de ter publicado Sem pecado, meus livros de poesia, Noturnos... e os infantis. O ideal teria sido manter um rosto mais condensado.
AM- Não me arrependo de ter escrito, mas de ter publicado Sem pecado, meus livros de poesia, Noturnos... e os infantis. O ideal teria sido manter um rosto mais condensado.
Sua ultima descoberta
AM- O Ceará.
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